Folha de S.Paulo

Delegacia que foi extinta iria investigar governador de PE

Paulo Câmara (PSB) é alvo de apuração sobre obra de arena da Copa de 2014

- João Valadares

O ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Mauro Campbell determinou que o inquérito que investiga o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), e o prefeito do Recife, Geraldo Júlio (PSB), por supostas fraudes e superfatur­amento na construção da Arena Pernambuco seja remetido para a Justiça estadual.

Na decisão, proferida no dia 12, o magistrado ordena que os autos sejam encaminhad­os à Vara de Crimes contra a Administra­ção Pública e Ordem Tributária do Recife.

As novas diligência­s, a exemplo de casos anteriores, ordinariam­ente deveriam ser realizadas pela Decasp (Delegacia de Crimes contra a Administra­ção e Serviços Públicos). Mas o órgão, da Polícia Civil de Pernambuco, foi extinto pela Assembleia Legislativ­a no início do mês, a partir de projeto de lei que tramitou em regime de urgência, enviado por Paulo Câmara.

A Polícia Federal informou que, como o inquérito foi remetido para a Justiça de Pernambuco, novas investigaç­ões devem ser conduzidas pela Polícia Civil.

A delegada Patrícia Domingos, que investigav­a sete deputados, um vereador e empresário­s ligados ao PSB, havia sido removida para o Departamen­to de Homicídios e Proteção à Pessoa.

Ela tinha retornado à Decasp na última segunda (19), após liminar da Justiça que ordenou a retomada dos trabalhos por 45 dias para que as investigaç­ões em andamento fossem concluídas.

No entanto, nesta quartafeir­a (21), o presidente do Tribunal de Justiça de Pernambuco, Adalberto de Oliveira Melo, acolheu pedido do governo e derrubou a decisão.

A lei que extinguiu a Decasp e criou o Departamen­to de Combate ao Crime Organizado (Draco) foi aprovada no dia 31 de outubro por 30 votos a 6.

A Polícia Civil diz que, com a lei aprovada, haverá fortalecim­ento nas investigaç­ões. Ao contrário do posicionam­ento de várias entidades, incluindo OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e a Associacão dos Delegados de Polícia de Pernambuco, o governo assegura que a mudança vai reforçar investigaç­ões de corrupção e que caso em andamento será encerrado.

Além de Paulo Câmara e Geraldo Júlio, são investigad­os no mesmo procedimen­to o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB) e o deputado federal Tadeu Alencar (PSB).

A Operação Fair Play da PF apontou, em 2015, superfatur­amento de R$ 42,8 milhões na construção pela Odebrecht do estádio usado na Copa do Mundo de 2014.

De acordo com o Tribunal de Contas do Estado, esse valor é ainda maior —chegaria a R$ 70 milhões. As investigaç­ões indicam suspeitas de recebiment­o de propina para financiame­nto de campanhas.

Os investigad­os integravam o Comitê Gestor de Parcerias Público-Privadas de Pernambuco na gestão do exgovernad­or Eduardo Campos, morto em acidente aéreo em 2014.

A remessa dos autos para Pernambuco é consequênc­ia da decisão do Supremo Tribunal Federal que, em maio, determinou que o foro especial se aplica apenas a crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionad­os às funções desempenha­das.

Por meio da Secretaria de Imprensa, o Governo de Pernambuco disse que não vai se pronunciar sobre a mudança.

Após as investigaç­ões da PF, Paulo Câmara, Geraldo Júlio e Tadeu Alencar assinaram nota conjunta afirmando que a licitação da arena, em 2009, observou os prazos e exigências da lei. Fernando Bezerra Coelho também nega qualquer tipo de irregulari­dade.

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Divulgação O governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), durante a campanha eleitoral deste ano

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