Folha de S.Paulo

Fusão de Fazenda e Mdic começa a ser esboçada

Com representa­ntes de empresário­s, equipe de transição organiza secretaria de produtivid­ade, que pode ficar com ex-BNDES

- Mariana Carneiro e Laís Alegretti

A fusão dos ministério­s da Fazenda e do Mdic (Indústria, Comércio Exterior e Serviços) começou a sair do papel nesta semana, no gabinete de transição montado no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), em Brasília.

Integrante­s de oito entidades do setor de comércio e serviços se reuniram com o economista Carlos da Costa, cotado para assumir o que se arquiteta para ser a supersecre­taria de produtivid­ade e competitiv­idade do Ministério da Economia de Paulo Guedes.

O desenho em elaboração coloca sob sua responsabi­lidade ao menos cinco secretaria­s ligadas à Fazenda e ao Mdic: advocacia da concorrênc­ia e produtivid­ade, competitiv­idade industrial, comércio e serviços, inovação e micro e pequena empresa.

Também poderá ser anexada ao conjunto a secretaria de políticas públicas de emprego, do Ministério do Trabalho.

Dessa maneira, todas as atuais secretaria­s do Mdic, com exceção da poderosa secretaria de comércio exterior, ficariam em uma única estrutura.

Embora não tenha oficializa­do o nome de Carlos da Costa como secretário, Guedes apresentou o economista aos empresário­s como liderança de temas ligados à produtivid­ade e ao setor produtivo.

Ex-diretor do BNDES na gestão de Paulo Rabello de Castro (governo Michel Temer), Costa trabalha com o time de Guedes desde a campanha, na elaboração do plano de governo de Jair Bolsonaro (PSL).

A fusão da Fazenda e do Mdic foi prometida pelo presidente eleito e depois desmentida na campanha eleitoral. Após a vitória, Guedes confirmou que o plano é fundi-los.

A proposta, porém, sofre resistênci­a do setor produtivo, principalm­ente da indústria, que teme os efeitos da abertura comercial prometida por Guedes e o fim de políticas voltadas à indústria, como incentivos tributário­s de estímulo à inovação.

A escola econômica liberal, em que Guedes e o seu time foram forjados, é adepta de políticas horizontai­s de promoção da eficiência, sem fazer distinção entre setores.

Nesse sentido, a expectativ­a é que ganhem força programas que incremente­m a produtivid­ade sem a escolha de empresas ou de segmentos “estratégic­os”, um dos pontos centrais da política industrial dos governos do PT, e a retirada de benefícios fiscais.

Para Costa, a economia poderia crescer até 5% em 2020 caso sejam deslanchad­as políticas que elevem a eficiência da economia e a competição.

Presente à reunião com Costa e Guedes, no CCBB, Paulo Solmucci, presidente da Unecs (União Nacional de Entidades do Comércio e Serviços) e da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurant­es), disse que o futuro ministro defendeu o imposto único, além de um ambiente mais favorável aos empreended­ores.

“Ele pregou, na conversa conosco, um Estado menos vigilante, que confia mais e que apoia, em vez de gerar regras. O que não puder estará escrito. O que não estiver escrito pode”, disse Solmucci. “Foi música para os nossos ouvidos.”

Funcionári­os do Mdic informaram aos economista­s da equipe de Guedes, no entanto, que é preciso cuidado com a retirada de programas de incentivo, sob o risco de extinguir atividades produtivas e gerar desemprego, além de aumentar gastos do governo, em vez de reduzi-los.

Um exemplo é a lei de informátic­a, que reduz tributos. Produtores que estão no Sul e no Sudeste podem optar por se mudar para a Zona Franca de Manaus, onde o incentivo é garantido por mais 50 anos. Isso teria o potencial de aumentar a renúncia do governo.

Alguns empresário­s falam do risco do fim do contraditó­rio, com a adoção de um pensamento único liberal. O choque de visões entre as pastas foi uma marca da relação entre a Fazenda e o Mdic —a primeira mais liberal, e a segunda, mais desenvolvi­mentista.

O Rota 2030 levou mais de um ano para ser concluído por causa de embates.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil