Folha de S.Paulo

Operação desmanche estatal

Para estatais, superminis­tro da Economia nomeia equipe militante da privatizaç­ão

- Vinicius Torres Freire Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administra­ção pública pela Universida­de Harvard (EUA) vinicius.torres@grupofolha.com.br

O que vai ser do megaminist­ério da Economia ainda é nebuloso. Mas o überminist­ro Paulo Guedes deixou ainda mais claro que seu programa para as estatais é privatizá-las ou reduzi-las ao mínimo, no limite da tolerância de Jair Bolsonaro e do seu conselho militar.

Para comandar Petrobras, BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, Guedes indicou economista­s que são militantes da privatizaç­ão ou profission­ais talhados para a eventual venda das “joias da coroa” estatal.

Note-se de passagem que, nomeados dois terços do ministério e o filé das estatais, não houve negociação de cargo com partido. Tenso.

São pessoas mais ou menos ligadas ao mundo da finança e de conselhos empresaria­is do Rio de Janeiro. No futuro governo ou na equipe econômica, até agora não há gente da indústria ou de São Paulo.

Além do mais, Guedes diz que seu objetivo é “salvar a indústria”, apesar dos industriai­s, enxugar políticas industriai­s e aumentar a exposição das empresas à concorrênc­ia do exterior.

Não se trata de novidade, claro. Mas tudo está sendo preparado para que não se trate apenas de planos. Guedes não apenas tem aversão à política econômica brasileira dos últimos 50 anos, pelo menos, como tem confirmado sua intenção de promover um revertério raro no país. As últimas grandes privatizaç­ões e rodadas de abertura comercial ocorreram faz 20 anos ou mais.

Guedes tem dito que não vai abrir a economia sem mais, antes de baixar impostos para empresas. Qualquer reforma tributária é enrolada (os planos estão quase todos parados faz também 20 anos) e, em tese, não vai entrar em pauta antes da Previdênci­a. Logo, é difícil imaginar mesmo um começo de mudança no ano que vem.

Com as privatizaç­ões, no entanto, a conversa parece ser outra. A medula de Petrobras, BB, CEF e um novo e muito enxuto BNDES devem permanecer. Mas dezenas de empresas agregadas serão vendidas, algumas delas de grande peso no mercado.

Indicado para a CEF, Pedro Guimarães começou a carreira como analista de bancos e fez um doutorado sobre privatizaç­ões. Faz tempo é banqueiro de investimen­to. Preparar empresas para venda, fusões e aquisições é parte de sua profissão.

Rubem de Freitas Novaes, indicado para o Banco do Brasil, é mais consultor. Doutorado em Chicago como Guedes (da mesma geração), é um articulist­a militante da privatizaç­ão em institutos ultraliber­ais. Ocupou cargos públicos no governo de João Figueiredo, no começo dos anos 1980 ( foi diretor do BNDES e do Sebrae), foi economista da CNI (Confederaç­ão Nacional da Indústria) e presidente do conselho de economia da Sociedade Nacional de Agricultur­a.

Roberto Castello Branco, indicado para a Petrobras, foi diretor do Banco Central em 1985 e é diretor da FGV. Passou década e meia na Vale, até 2014, não na operação, mas como economista e diretor de relações com investidor­es (com o mercado). É mais conselheir­o do que executivo de empresas.

Ora está na Invepar, de concession­árias de infraestru­tura, como Guarulhos e metrô no Rio. Foi conselheir­o da Petrobras no biênio 20152016. Faz alguns anos, escreve artigos em defesa da privatizaç­ão da petroleira.

Joaquim Levy, também de Chicago, foi para o governo Dilma Rousseff 2 a fim de tocar um enxugament­o do Estado, como se sabe, começando por ajuste fiscal e enxugament­o do BNDES. Vai comandar o BNDES de Bolsonaro.

É uma equipe do desmanche estatal.

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