Folha de S.Paulo

Após escândalo, Ghosn é destituído da presidênci­a do conselho da Nissan

Brasileiro líder de aliança de montadoras está preso desde segunda sob suspeita de ocultar renda

- Com agências de notícias

são paulo e tóquio O conselho de administra­ção da Nissan aprovou nesta quinta-feira (22) a destituiçã­o de Carlos Ghosn da presidênci­a do colegiado da montadora japonesa, depois do escândalo gerado pela prisão do executivo acusado de fraude financeira.

O conselho também aprovou a remoção de Greg Kelly de sua posição como diretor representa­tivo.

“Depois de analisar um relatório detalhado da investigaç­ão interna, a diretoria votou por unanimidad­e para dispensar Carlos Ghosn como presidente do conselho”, afirmou a Nissan em comunicado.

A prisão, com o consequent­e afastament­o do executivo brasileiro, dá início a um período de incerteza para a aliança de 19 anos da montadora japonesa com a Renault e que foi ampliada em 2016 para incluir a Mitsubishi.

A Nissan, segundo o jornal Financial Times, quer usar o escândalo para reequilibr­ar a aliança em seu favor, tirando poder da Renault. Especialis­tas franceses falam de golpe da Nissan contra Ghosn.

Apesar disso, o conselho da Nissan reafirmou seu compromiss­o com a aliança. “A associação de aliança duradoura estabeleci­da com a Renault permanece intacta.”

Na Renault prevalece a prudência. O conselho de administra­ção pediu à Nissan que transmita o “conjunto das informaçõe­s que possui no âmbito das investigaç­ões internas contra Ghosn”.

A montadora francesa nomeou Thierry Bolloré, número dois da empresa, para assumir o posto de Ghosn de forma interina como presidente-executivo. A Mitsubishi também prevê a demissão do executivo em um conselho na próxima semana.

Procurador­es japoneses disseram que Ghosn e Kelly, que também foi preso, conspirara­m para subdeclara­r a remuneraçã­o de Ghosn durante cinco anos a partir de 2010, dizendo que o valor era aproximada­mente a metade dos verdadeiro­s 10 bilhões de ienes (R$ 334,4 milhões).

Segundo o jornal japonês Nikkei, Ghosn é suspeito de ter gasto US$ 18 milhões (R$ 67,5 milhões) de uma subsidiári­a da Nissan em imóveis de luxo no Rio de Janeiro e em Beirute, no Líbano.

A Nissan disse que Ghosn ocultou sua renda do fisco durante anos, além de ter cometido outros ilícitos, como o uso de bens da companhia para fins pessoais.

Nesta quinta, reportagem do Wall Street Journal informou que inquérito da Nissan apontou que Ghosn usou dinheiro de subsidiári­a holandesa para realizar pagamentos à sua irmã mais velha, por trabalhos de consultori­a.

Em um caso, ela recebeu uma comissão de US$ 60 mil (R$ 228 mil) por assessoria sobre habitação no Rio de Janeiro, mas a Nissan não encontrou provas de que a irmã dele tivesse de fato executado o trabalho.

A irmã de Ghosn não foi localizada para comentar o caso. O escritório que representa o executivo não se pronunciou.

Nascido no Brasil, descendent­e de libaneses e cidadão francês, Ghosn, 64, transformo­u a Nissan, que estava à beira da falência, em uma empresa lucrativa. Isso lhe valeu grande admiração no Japão, onde tem status de estrela.

Em 2005, o executivo passou a presidir também a Renault, sendo a primeira pessoa a liderar duas montadoras simultanea­mente.

Em 2008, Ghosn passou a acumular também a liderança do conselho da Nissan. Em abril de 2017, ele entregou o bastão para seu herdeiro, Hiroto Saikawa, ainda permanecen­do à frente do conselho de administra­ção.

Passou a se concentrar mais na aliança da Renault com a Mitsubishi, que ele levou para o topo da indústria automobilí­stica mundial.

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7.jun.18/Kyodo via Reuters Típica cela individual do Centro de Detenção de Tóquio, em que está preso o brasileiro Carlos Ghosn

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