Folha de S.Paulo

Doria cogita tocar linha 6 do metrô sem PPP

Entusiasta de privatizaç­ões, tucano teme que retomada de obra parada possa ter entrave em SP com parceria privada

- Artur Rodrigues e Guilherme Seto

Entusiasta de concessões e privatizaç­ões, o governador eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), cogita dispensar o modelo de PPP (parceria público-privada) e adotar contratos convencion­ais para retomar as obras da linha 6-laranja do Metrô.

A linha, com 15 km e 15 estações, é prometida há dez anos, mas foi paralisada após entrave na PPP. A construção, iniciada em 2013, já consumiu R$ 1,7 bilhão em obras (41% em recursos do estado) e R$ 984 milhões em desapropri­ações.

O custo para finalizar as obras deve ultrapassa­r R$ 9 bilhões —valor que ainda pode aumentar após atualizaçõ­es.

Anunciada em 2008, na gestão José Serra (PSDB), a linha 6 do Metrô chegou a ser prevista para 2012 e, após a assinatura do contrato, para 2018.

Ela era exaltada pelo governo como a primeira PPP no Brasil responsáve­l tanto pela construção como pela futura administra­ção do metrô —para operar a linha por 25 anos.

O percurso entre a Brasilândi­a (zona norte) e a Liberdade (centro) ganhou o apelido de “linha das universida­des”, devido às paradas perto de instituiçõ­es de ensino superior.

Diante de uma série de problemas, porém, a linha atravessou as duas últimas gestões de Geraldo Alckmin (PSDB) sem ficar perto da conclusão.

Empresas da PPP —como Odebrecht, Queiroz Galvão e UTC Engenharia— viraram alvo de investigaç­ões de corrupção em outros contratos pelo país. Sem conseguir financiame­nto, paralisara­m as obras em setembro de 2016, com apenas 15% de avanço.

O consórcio ainda tentou trocar sócios e convidou uma gigante estatal chinesa para assumir, mas a empresa também desistiu da linha. Na sexta-feira (16), o conselho gestor de PPPs no estado aprovou o processo de caducidade do contrato de concessão.

Doria, que tem nas desestatiz­ações uma bandeira política, avalia realizar a obra de maneira convencion­al, sem PPP, por falta de alternativ­as para a parceria privada, conforme apurou a Folha com integrante­s do futuro governo.

A dificuldad­e é achar interessad­os em tocar uma obra dessa magnitude, o tempo de um novo processo de contrato de PPP e os riscos devido ao espólio da construção abandonada, chamariz para discussões judiciais no futuro.

Os canteiros das obras e as áreas com imóveis demolidos atualmente atraem usuários de drogas, descarte irregular de lixo, ratos e baratas.

Além disso, os dois tatuzões que fariam a perfuração dos túneis do metrô, produzidos na China especifica­mente para esta obra, estão desmontado­s e sem uso.

Somente após a conclusão do processo de caducidade o governo poderá realizar novos estudos de modelagem econômico-financeira e rea- lizar consultas públicas para a publicação do novo edital.

Durante a campanha eleitoral, Doria prometeu retomar e acelerar obras do metrô.

Ele definiu como meta uma rede metroviári­a de 350 km (hoje, é de cerca de 90 km), mas disse que era um plano de longo prazo, que não terminaria em seu mandato.

Doria prometeu levar a linha 18 do metrô até o ABC. O projeto prevê um monotrilho entre a estação Tamanduate­í, da linha 2-verde, e as cidades do ABC. No caso desta linha, Doria falava em outra PPP.

Durante a campanha, o tucano prometeu buscar apoio financeiro do governo federal para tocar as obras, por meio do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social). Apesar da derrota de Alckmin, candidato do PSDB, Doria se aproximou da campanha de Jair Bolsonaro (PSL), que acabou eleito presidente.

Quando a linha 6 foi anunciada, em 2008, houve resistênci­a de parte dos moradores de Higienópol­is, no centro.

A assinatura do contrato da PPP só ocorreu em 2013, quando a estimativa era de que a linha poderia funcionar parcialmen­te até 2018.

A expectativ­a do estado, que acabou frustrada depois, era que o fato de ser uma PPP plena (com o mesmo grupo construind­o e operando) tornaria o projeto mais atrativo à iniciativa privada, além de incentivar o término das obras.

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Diego Padgurschi - 14.ago.18/Folhapress Obras paradas na estação Freguesia do Ó da linha 6-laranja
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