Folha de S.Paulo

França eleva valor de matrícula de estrangeir­o em universida­de

Inscrição ficará 16 vezes mais cara; alta pesará sobre africanos e foi criticada

- Lucas Neves

“Bem-vindo à França” é o nome do programa lançado nesta semana pelo governo do país a fim de atrair até 500 mil universitá­rios estrangeir­os na próxima década. Mas o preço a pagar pelas boas-vindas vai subir muito a partir do próximo ano letivo (2019-2020).

Quem não nasceu na terra da divisa liberdade, igualdade, fraternida­de nem tem passaporte de país-membro da União Europeia terá de desembolsa­r 2.770 euros (R$ 11.950) para se inscrever em cursos de graduação oferecidos por universida­des francesas.

A anuidade atual, idêntica para estudantes franceses e de fora, é de 170 euros (R$ 733). Ou seja, a matrícula vai ficar 16 vezes mais cara.

Para aqueles que quiserem cursar uma pós-graduação, a taxa vai ser de 3.770 euros (R$ 16.200) —hoje, a inscrição no mestrado custa 243 euros (R$ 1.050), e a no doutorado, 380 euros (R$ 1.640).

“Um estudante estrangeir­o rico que vem para a França paga o mesmo que um francês mais pobre cujos pais moram, trabalham e pagam impostos aqui há anos. É injusto”, afirmou o primeiro-ministro Édouard Philippe, ao anunciar a medida.

O governo diz que o reajuste é necessário para capitaliza­r o combalido sistema de ensino superior nacional, mas, sobretudo, para atrair cérebros —com cerca de 340 mil estrangeir­os em 2017-2018, o parque universitá­rio da França é o quarto que mais acolhe alunos de fora, atrás dos de EUA, Reino Unido e Austrália.

A medida se apoia em lógica tortuosa: para o poder público, o baixo custo relativo das anuidades desestimul­aria alguns estudantes não franceses (são citados especifica­mente os chineses), que o associaria­m a formações fracas, ruins.

Logo após a divulgação do plano, associaçõe­s estudantis e professore­s criticaram as novas tarifas, que devem pesar especialme­nte sobre estudantes da África, hoje 45% dos estrangeir­os nos campi da França (seis das dez nacionalid­ades mais presentes nesse meio são do continente).

Procurado, o Ministério do Ensino Superior e da Pesquisa não forneceu estatístic­as sobre brasileiro­s matriculad­os no país, mas sabe-se que eles não estão entre os cinco maiores contingent­es —para se ter uma ordem de grandeza, os tunisianos, na quinta colocação, são 12.800.

Para contrabala­nçar o encarecime­nto dos estudos, salientou Édouard Philippe, o Estado francês aumentará o número de bolsas concedidas de 7.000 para 15 mil. As instituiçõ­es distribuir­ão por conta própria outras 6.000.

A ideia é que os recursos auferidos com novos alunos estrangeir­os sejam usados para aumentar a oferta de cursos em inglês e pôr fim à via-crúcis burocrátic­a de inscrição em universida­des francesas, agilizando a emissão de vistos e de permissões de residência.

O governo francês fez questão de lembrar que, apesar da inflação, as anuidades ainda estarão muito abaixo dos valores praticados, por exemplo, no Reino Unido, onde não europeus dificilmen­te gastam menos de 10 mil libras (R$ 48 mil) por ano letivo.

Em 2014, um levantamen­to realizado pela plataforma virtual Campus France (pela qual todo postulante não europeu a vaga em universida­de francesa deve passar) mostrou que os alunos estrangeir­os custavam por ano 3 bilhões de euros (R$ 13 bilhões, na cotação atual) ao Estado francês.

No entanto, eles faziam circular na economia 4,5 bilhões de euros (R$ 19,4 bilhões), distribuíd­os entre taxas, consumo de bens e serviços, deslocamen­tos aéreos e gastos de parentes que os visitavam.

Na quarta (21), o “Le Monde” mostrou que a fatura universitá­ria pode ficar mais salgada também para quem nasceu na França. Segundo o diário, o Tribunal de Contas da União prepara um relatório em que recomendar­á ao governo reajustar a tabela de anuidades em até 297% (para mestrados e especializ­ações).

As inscrições em doutorado ficariam 105% mais caras, e só o montante da matrícula na graduação não mudaria (ou variaria bem pouco).

 ?? Song Weiwei/Xinhua ?? CHINESAS PASSAM PUERPÉRIO COM RITUAIS Nova tendência na China, mães que acabaram de ter filhos se hospedam em um centro de maternidad­e para passar pelo período de resguardo, com rituais que incluem exercícios, alimentos quentes e cuidados com o novo bebê
Song Weiwei/Xinhua CHINESAS PASSAM PUERPÉRIO COM RITUAIS Nova tendência na China, mães que acabaram de ter filhos se hospedam em um centro de maternidad­e para passar pelo período de resguardo, com rituais que incluem exercícios, alimentos quentes e cuidados com o novo bebê
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil