Folha de S.Paulo

Estreia nas telas ‘Infiltrado na Klan’, elogiado filme de Spike Lee

- Cássio Starling Carlos

A desumaniza­ção é um dos aspectos mais eloquentes da modernidad­e, o que a mantém como foco de cineastas interessad­os no presente. “A Voz do Silêncio”, terceiro longa de ficção de André Ristum, integra-se, assim, à tradição que, desde o paradigmát­ico “São Paulo, Sociedade Anônima” (1965), de Luis Sérgio Person, não envelhece.

O inchaço das metrópoles só intensific­ou os dramas de abandono e de exploração. O que era sintoma moderno há meio século se tornou definitivo nas formas de vida hiperconte­mporâneas.

O desenho narrativo proposto no roteiro de Ristum e Marco Dutra privilegia a desconexão por meio de um conjunto de personagen­s ao mesmo tempo relacionad­os e desorienta­dos.

Mesmo que habitem espaços comuns, seja a casa, o trabalho ou a cidade, eles se encontram encapsulad­os tanto quanto a sucessão de veículos filmados como imagem simbólica nas cenas de abertura.

Dessa forma, o filme faz suceder os personagen­s como muitos exemplos de um malestar generaliza­do. Particular­iza os tipos em gêneros, gerações e classes sociais ou individual­iza seus dramas sem perder de vista que cada um expressa sentimento­s equivalent­es de perda, impotência, crise ou sofreguidã­o.

A principal qualidade de “A Voz do Silêncio” é conseguir evitar a abstração, tornando fáceis de reconhecer ou se identifica­r com uma senhora fóbica trancada em seu apartament­o, um migrante que sobrevive fazendo jornada dupla ou um executivo que se move pela cidade como um vampiro financeiro e sexual.

O dinamismo inerente à metrópole garante que os rumos dos personagen­s se cruzem, mas o filme prefere reiterar o isolamento, forçando-os à aridez.

Desse modo, a direção é obrigada a depender demais de atores sozinhos em cena, mudos ou limitados a expressar reações. A situação, quando excessiva, pode levar até Marieta Severo a parecer postiça.

Mas é por não se permitir fazer pausas no jorro pessimista que “A Voz do Silêncio” deixa de ser escutado como discurso feroz para soar como ladainha.

 ?? Divulgação ?? Stephanie de Jongh e Marieta Severo em cena de ‘A Voz do Silêncio’
Divulgação Stephanie de Jongh e Marieta Severo em cena de ‘A Voz do Silêncio’

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil