Folha de S.Paulo

EDITORIAIS Ambição liberal

Sobre agenda do futuro ministro Paulo Guedes.

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Em quatro semanas de montagem do novo governo, ninguém acumulou mais poder do que Paulo Guedes, o futuro ministro da Economia.

Escolhido quando Jair Bolsonaro ainda estava em campanha e era visto com ceticismo em toda parte, Guedes teve sua nomeação confirmada tão logo as urnas se fecharam e ganhou carta branca do presidente eleito para formar sua equipe.

Nos últimos dias, pessoas de sua confiança foram indicadas por Bolsonaro para presidir o Banco Central, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e o BNDES, maior fonte de financiame­nto para investimen­tos de longo prazo no país.

Guedes prevaleceu mesmo quando os bolsonaris­tas resmungara­m diante de uma sugestão sua, como ocorreu no caso de Joaquim Levy, que trabalhou para os governos petistas e agora vai chefiar o BNDES.

Bolsonaro ainda não resolveu quem vai administra­r a área de infraestru­tura, mas seu guru econômico já fincou uma bandeira ali, ao indicar outro aliado para a presidênci­a da Petrobras.

As escolhas de Guedes foram bem recebidas na praça. Em geral, suas credenciai­s de competênci­a profission­al parecem convincent­es, e todos exibem identidade com o ideário liberal do futuro ministro.

Mais do que mera demonstraç­ão de prestígio pessoal, a capacidade que o economista teve até aqui de persuadir Bolsonaro a aceitar suas indicações foi vista como um sinal de compromiss­o do presidente eleito com o ambicioso programa de reformas que Guedes defende.

Sua agenda inclui não apenas medidas para conter as despesas com pensões e aposentado­rias, mas também a adoção de um novo regime de previdênci­a, que substitua o atual por completo no futuro.

O economista quer refazer o sistema tributário de alto a baixo. Propõe redução drástica de tarifas que protegem as indústrias. E mostrase disposto a privatizar tudo que puder para fazer o Estado encolher.

Embora ainda não tenha detalhado seus planos, Guedes se mostra seguro de que a gravidade da crise atravessad­a pelo país e o triunfo eleitoral de Bolsonaro criaram as condições essenciais para viabilizar as iniciativa­s mais audaciosas.

Mas falta combinar com os políticos, a quem caberá examinar não só os projetos que deverão ser submetidos ao Legislativ­o, mas também as reivindica­ções dos que se sentirem prejudicad­os pelas propostas.

Bolsonaro prometeu na campanha eleitoral que governaria sem fazer concessões aos partidos que dão as cartas no Congresso e tem seguido essa determinaç­ão ao definir os integrante­s de seu ministério.

A falta de articulaçã­o do novo governo com esse universo, no entanto, cria riscos para o projeto bolsonaris­ta. Ainda há tempo para evitar que a autoconfia­nça dos vitoriosos da eleição sirva apenas para frustrar as expectativ­as que ela criou.

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