Folha de S.Paulo

A tentação populista

- Hélio Schwartsma­n helio@uol.com.br

O que vem depois de Trump? Se a promessa do presidente norte-americano de trazer de volta os bons empregos na indústria por meio de barreiras comerciais fracassar, como é provável que acontecerá, para onde o eleitor vai se voltar? Para o centro ou para uma alternativ­a ainda mais radical?

Essa é uma das questões propostas pelo historiado­r econômico Barry Eichengree­n (Universida­de da Califórnia, Berkeley) em “The Populist Temptation”, mais um dos bons livros que tentam explicar o que diabos está acontecend­o no mundo.

O autor conceitua populismo como uma força que demoniza “as elites” e glorifica “o povo” e se caracteriz­a, nos EUA e na Europa (ele fala pouco das outras partes do mundo), por tendências autoritári­as, nativistas e anti-intelectua­is. Mostra, com abundância de exemplos, que o populismo se torna mais comum na esteira de grandes crises, quando é relativame­nte fácil convencer os eleitores de que as dificuldad­es que eles experiment­am se devem a uma traição das elites.

No mais das vezes, as respostas que o líder populista oferece para a economia são simplistas e contraprod­ucentes. A ideia de Trump de provocar uma guerra comercial para reaver empregos que jamais voltarão é um bom exemplo.

O interessan­te no livro de Eichengree­n é que ele não se limita a mostrar as condições sob as quais o extremismo prospera, analisando também situações em que a elite política conseguiu dar uma resposta às ansiedades econômicas que logrou evitar a tentação populista. Merecem destaque aí o New Deal de Roosevelt nos anos 30 e as reformas sociais que Otto von Bismarck introduziu na Alemanha em fins do século 19.

E o que virá depois de Trump? A julgar pelo resultado das eleições de meio de mandato, o americano deve voltar-se para a oposição normal, que são os democratas. Mas, se há algo que pleitos recentes nos ensinaram, é que surpresas passaram a fazer parte do novo normal.

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