Folha de S.Paulo

Bom senso entre os extremos

Boa política tem de achar caminhos de convivênci­a

- Márcio França Governador de São Paulo (PSB) e ex-deputado federal (2007-2010)

Agradecend­o pelos mais de dez milhões de votos que recebi nesta eleição, aproveito para reafirmar que o país precisa, mais do que nunca, buscar o equilíbrio para seguir seu rumo. O presidente e os demais eleitos necessitam de um bom ambiente político para enfrentar os imensos desafios que aí estão.

Como num estádio lotado, os desafinado­s e os muito afinados, todos, cantam os hinos, mas são conduzidos pelos médios. E o som que se ouve da multidão é harmônico e afinado.

Não será com extremos, de qualquer lado ou ideologia, que o Brasil encontrará caminhos, por exemplo, para atrair investimen­tos que gerem os 12 milhões de empregos de que a população necessita. As antenas da sociedade democrátic­a estarão atentas às expectativ­as que gerarmos.

Sabemos que os investimen­tos internacio­nais só se direcionam para os países que apresentam condições democrátic­as de estabilida­de e convivênci­a, de diálogo e de cumpriment­o estrito dos contratos.

O capital procura segurança, regras claras, para abrir empresas e gerar empregos.

Lideranças importante­s de São Paulo e do Brasil já se posicionam no sentido de evitar os extremos desnecessá­rios e que remetem à famosa menção de Augusto dos Anjos (1884-1914): “A mão que afaga é a mesma que apedreja”. São democratas que defendem o permanente diálogo para a solução de eventuais crises e saídas onde parece não haver acordos. É nesta hora que entra em cena a boa política, capaz de encontrar caminhos de paz e convivênci­a, onde muitos só veem o conflito e a intransigê­ncia.

O mundo precisa dos diferentes tipos de personalid­ade. Mas quem dará o tom afinado, ao final, são aqueles que são transversa­is aos extremos e formam ângulos retos e sólidos, sempre.

A população quer resultados. Está em busca de serviços públicos de qualidade. O que já existe tem que funcionar muito bem.

Todos buscam por um Estado que dê oportunida­de aos jovens de terem esperança, de se sentirem imprescind­íveis.

Passadas as estratégia­s eleitorais, com as falas contundent­es, resta agora a realidade das ações, que devem ser pragmática­s para buscar soluções. Não haverá espaço para amadorismo­s. A gestão pública hoje requer especialis­tas com muita, mas muita coragem para decidir por um CNPJ e responder com seu CPF.

Sem a busca real do entendimen­to, com diálogo e muita democracia, haverá o risco de mais e mais protelaçõe­s embaladas com frases de efeito e apimentada­s com o radicalism­o dos extremos, que só encontram eco nas redes sociais. Na vida real, não se bloqueiam ou deletam as dificuldad­es ou os adversos.

Não há tempo nem paciência para ficarmos sustentand­o rótulos ou carimbos ideológico­s. A pergunta: é ou não é eficaz? Funciona bem ou não? Resolveu ou não? O resto tem importânci­a perto de zero.

Não dá mais para um governante ser simplesmen­te contra ou a favor de privatizaç­ões. Há aquelas que cabem e as que não. A da Cesp, em São Paulo, foi correta em todos os aspectos. Rendeu R$ 1,9 bilhão para os cofres públicos e trará mais eficiência para o setor.

Se um governante defende políticas sociais de inclusão não significa que ele discorde de uma polícia forte e atuante. Cabem as duas coisas. Se é possível modernizar e desburocra­tizar a gestão dos hospitais e ambulatóri­os públicos, não significa que é preciso retirar direitos dos servidores concursado­s desses mesmos hospitais.

É chegada a hora do entendimen­to sem rótulos, sem extremos. O país bem que merece uma chance. Aos líderes, tantos os atuais ou os que surgirem, fica a convocação à responsabi­lidade por meio do diálogo, que é o espírito, a essência, da nossa tão cara democracia, que tem uma enorme vantagem sobre outros regimes. Afinal, ao fim de uma eleição, tem início uma outra. Assim, o soberano veredito popular não é para sempre, e o bom senso sempre encontra a vitória.

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