Folha de S.Paulo

A OAB precisa se intrometer, diz candidato

Advogado que concorre à presidênci­a da Ordem em SP afirma que entidade deve recuperar ‘respeito de antigament­e’

- Rogério Gentile

“A OAB versátil, que fala sobre tudo, tem credibilid­ade para falar do direito de defesa. Hoje a OAB fica acuada. Diz: por favor, respeite o direito de defesa. Se tivesse protagonis­mo, diriam, chegou a OAB. Seria respeitada como era antigament­e

são paulo Candidato a presidente da OAB-SP, Sergei Cobra Arbex diz que a entidade deveria se intrometer em todas as questões de interesse do país a fim de recuperar seu protagonis­mo e “o respeito de antigament­e”.

Segundo ele, que concorre ao cargo pela segunda vez, a advocacia passou a ser uma profissão malvista na sociedade justamente por conta da omissão da OAB.

Ele reclama que os advogados começaram a sofrer constrangi­mentos nos tribunais, sendo submetidos a revistas para entrarem nos fóruns. A eleição será na quinta (29).

Qual a sua avaliação sobre a atual direção da OAB-SP?

É muito omissa, falha do ponto de vista institucio­nal e corporativ­o. A OAB sempre teve protagonis­mo, foi a ponta de lança da sociedade civil.

Hoje é uma entidade que se acovarda, que se encastela. Não é só o advogado que pergunta cadê a OAB. É o médico, o jornalista, o engenheiro. Todos se ressentem de uma entidade atuante. A OAB nasceu para fazer manifestaç­ão, mobilizar as massas.

Em que situação o sr. sentiu falta desse protagonis­mo?

Há milhares de exemplos. A OAB ficou fora do debate sobre o açodamento das instituiçõ­es como no episódio da postura do Ministério Público Federal nas gravações da JBS [suspeita-se que procurador­es orientaram executivos da JBS a gravarem pessoas que seriam delatadas]. Tinha de ter entrado, assim como nas discussões sobre a Lava Jato.

Tem de ser uma entidade livre, falar o que for necessário, doa a quem doer. Tem de se intrometer em tudo. Na Justiça, na segurança pública, na saúde, na educação.

Em tudo?

A OAB versátil, que fala sobre tudo, tem credibilid­ade para falar do direito de defesa. Hoje a OAB fica acuada. Diz: por favor, respeite o direito de defesa. Se tive protagonis­mo, diriam, chegou a OAB. Seria respeitada como era antigament­e. Aí fica mais fácil explicar quais são os excessos, por exemplo, da Lava Jato.

E qual a sua crítica sobre a atuação corporativ­a da OAB?

Não faz a defesa do advogado como deveria. Às vezes, um advogado é ofendido e o caso passa por uma comissão e seis meses depois sai um desagravo. A reação tem de ser imediata. A OAB precisa ser forte e transferir isso para advocacia, que hoje é malvista.

É malvista?

A advocacia ainda guarda um respeito merecido. Mas, por conta dessa OAB fraca, o está perdendo ao longo do tempo. Não se pode pensar que o advogado atrapalha. É uma profissão séria. Temos de conquistar esse respeito. Mas, para isso, é preciso ter interlocuç­ão com a sociedade. Não pode ter medo de desagradar às autoridade­s.

O sr. disse que a OAB precisa falar sobre educação. Qual sua opinião sobre a quantidade de cursos de direito no país?

Por lei, a OAB tem de dar um parecer quando se pretende abrir uma nova faculdade. De cada dez novas faculdades, a OAB diz que nove não têm condições de abrir. Sabe quantas abrem? Todas. É ignorada, mas tinha de ter poder de veto. O governo decide com base na política.

Aí o aluno paga mensalidad­e durante cinco anos, com dificuldad­e, e não tem condição de passar no exame da Ordem, que é necessário para trazer ao mercado de trabalho apenas os profission­ais minimament­e qualificad­os.

E o exame da magistratu­ra?

Essa é outra questão que a OAB não entra. Não é bom. Não é vocacionad­o. É por isso que tem tanto juiz com dificuldad­e de exercer a profissão. O candidato a juiz não precisa tirar nove, dez na prova. De repente, tirou oito, mas é uma pessoa vocacionad­a para trabalhar com pessoas, com ser humano. Tem juiz que tem dificuldad­e para dar bom dia.

Na sua plataforma de campanha o sr. diz que é necessário acabar com constrangi­mentos nos tribunais. Que constrangi­mentos?

De toda ordem. O advogado é revistado no fórum. Tem de abrir bolsa! Isso é ruim na medida em que o juiz e o promotor não passam pela revista, em que os serventuár­ios não passam. O advogado é a única parte integrante da Justiça que passa.

Houve uma decisão recente do TCU pela qual a OAB passará a ter suas contas fiscalizad­as pelo órgão. O que achou?

Inadmissív­el. Defendemos aumento da transparên­cia interna. Os advogados precisam ter acesso às contas, saber como são os gastos. Mas a base da OAB é a independên­cia. Se for controlada pelo estado, perde a independên­cia.

Não somos uma entidade pública. Ninguém tem de se intrometer. Somos nós os “intrometed­ores-gerais da República”. Esse avanço do TCU é reflexo da omissão da OAB.

 ?? Zanone Fraissat/Folhapress ??
Zanone Fraissat/Folhapress

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil