Folha de S.Paulo

‘Venezuelan­o não é mercadoria para ser devolvido’, diz Bolsonaro

- Nicola Pamplona

rio de janeiro O presidente eleito, Jair Bolsonaro, contestou neste sábado (24) declaraçõe­s do governador eleito de Roraima pelo seu partido (PSL), Antônio Denarium, que defendeu a devolução de imigrantes para a Venezuela.

“O povo venezuelan­o não é mercadoria, não é produto, para ser devolvido”, afirmou.

Eleito em outubro para sua primeira experiênci­a em cargo público, Denarium vem defendendo o fechamento de fronteiras e um programa de retorno dos imigrantes venezuelan­os ao país vizinho. Ele afirmou que o governo federal deveria criar um programa para devolver refugiados para a Venezuela, com pagamento de passagem de ônibus e alimentaçã­o.

A crise provocada no estado pelo grande número de refugiados é um dos fatores que ajudaram na eleição do aliado de Bolsonaro.

O presidente eleito voltou a citar a abertura de campos de refugiados como uma alternativ­a para acolher os venezuelan­os. “Não podemos deixar que fiquem à própria sorte e que o governo de Roraima [fique] nessa situação.”

Bolsonaro defendeu ainda controle mais rígido nas fronteiras entre Brasil e Venezuela. “Tem gente que está fugindo da fome e da ditadura e tem também gente que a gente não quer no Brasil”, argumentou, em entrevista após cerimônia na Brigada de Infantaria Paraquedis­ta, no Rio.

Ele voltou a criticar os governos petistas por apoio ao ditador venezuelan­o, Nicolás Maduro. “Temos que entender que eles estão fugindo de uma ditadura apoiada pelo PT.”

“Se tivesse um governo democrátic­o, há algum tempo teríamos tomado outras providênci­as. Por exemplo, excluído [a Venezuela] do Mercosul pela cláusula democrátic­a ou sequer entrado no Mercosul pelas mesmas cláusulas. A Venezuela não pode ser tratada como país democrátic­o”, concluiu.

A atual governador­a, Suely Campos (PP), afirma que Roraima abriga ao menos 40 mil venezuelan­os. Cerca de 6.000 estão vivendo em abrigos temporário­s. A governador­a pediu repasse de recursos do governo federal para arcar com gastos extras na saúde e na educação.

Em seu mandato, Suely baixou um decreto que restringia o acesso dos venezuelan­os ao sistema de saúde, exigindo apresentaç­ão de passaporte, e pediu ao governo federal o fechamento da fronteira. As duas medidas foram derrubadas, mas tinham bastante apoio popular.

Os venezuelan­os têm passado pelo processo de interioriz­ação no Brasil. A agência da ONU para refugiados (Acnur) coordena, com o governo federal, o envio de venezuelan­os para outros estados da federação onde há mais oportunida­des de emprego.

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