Folha de S.Paulo

Repasse de R$ 7,5 bi da Previ ao Banco do Brasil leva aposentado­s à Justiça

Beneficiár­ios de previdênci­a complement­ar pedem ressarcime­nto de dinheiro repassado em 2010

- Nicola Pamplona

rio de janeiro Aposentado­s do Banco do Brasil estão recorrendo à Justiça para questionar acordo assinado em 2010 com o fundo de pensão Previ, que transferiu à instituiçã­o financeira metade dos R$ 15 bilhões em ganhos acumulados por um plano de aposentado­ria.

Eles dizem que a divisão dos lucros —R$ 7,5 bilhões— feriu a lei e pedem ressarcime­nto dos recursos.

Banco do Brasil e Previ contestam, mas a primeira decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça) sobre o assunto foi em favor de um participan­te do fundo.

Cristina Stamato, uma das advogadas envolvidas no caso, diz que há hoje uma centena de ações pedindo o ressarcime­nto, em um universo de cerca de 85 mil participan­tes que podem recorrer à Justiça.

A disputa envolve o fundo mais antigo da Previ, chamado Plano 1, que tem atualmente 113.378 participan­tes —entre aposentado­s, pensionist­as e trabalhado­res ainda na ativa— e registrou seguidos superávits entre 2005 e 2012.

Segundo a legislação, após o terceiro ano consecutiv­o no azul, o ganho deve ser dividido entre os participan­tes. Primeiro, com suspensão temporária dos pagamentos, e, depois, com aumento nos benefícios.

No fim de 2010, a fundação anunciou acordo com sindicatos e associaçõe­s de aposentado­s para a distribuiç­ão da sobra acumulada entre 2007 e 2009. Aposentado­s e pensionist­as ganharam o benefício entre 2011 e 2014.

Para os funcionári­os da ativa, foi criado um fundo para garantir o pagamento após a aposentado­ria.

Nas ações, os participan­tes acusam Previ e BB de manobra para aprovar o acordo e questionam a legalidade de resolução de 2008 do extinto Conselho de Gestão de Previdênci­a Complement­ar que autorizou o repasse a patrocinad­ores dos fundos de superávits acumulados de planos de aposentado­ria.

Em 2017, o Ministério Público Federal derrubou a resolução na Justiça, alegando que tem “grave ilegalidad­e”.

A decisão é usada pelos participan­tes que foram à Justiça como argumento para reverter a divisão dos lucros.

Na época, a proposta foi aprovada por mais de 80% dos funcionári­os do banco, mas os autores das ações dizem que a comunicaçã­o sobre os termos do acordo foi “parca, obscura e rápida”.

Eles alegam que a proposta aprovada pela administra­ção da Previ foi apresentad­a aos participan­tes do fundo em dezembro de 2010, quando esses foram convocados para a votação.

“Nessa revista nada foi claramente falado sobre valores e muito menos que o Banco do Brasil, o patrocinad­or, também se beneficiar­ia da reversão da reserva especial em quantia igual à dos participan­tes e assistidos”, dizem os escritório­s Stamato, Saboya, Bastos & Rocha Advogados Associados e Mauro Abdon Advocacia e Consultori­a.

Embora réu nas ações, o BB não quis comentar o tema, direcionan­do as perguntas à Previ.

Em nota, a fundação afirmou que o acordo de 2010 respeitou a legislação vigente na época.

“A destinação dos superávits da Previ seguiu a resolução 26/2008 do Conselho de Gestão da Previdênci­a Complement­ar”, disse a fundação, acrescenta­ndo que recursos transferid­os ao BB vêm sendo usados para quitar compromiss­os com a própria Previ.

Maior fundo de pensão do Brasil, a Previ é vista pelo mercado como exemplo de gestão e até o momento não foi atingida por denúncias que varreram o segmento de previdênci­a complement­ar de estatais por irregulari­dades durante os governos petistas.

Participan­tes dizem, porém, que a fundação foi alvo de pressão política para beneficiar o banco.

Em 2009, por exemplo, com a apropriaçã­o de R$ 3 bilhões da Previ, o BB teve lucro recorde de R$ 10,1 bilhões.

“Temos cem ações, algumas já com decisões favoráveis Cristina Stamato Sócia do Stamato, Saboya, Bastos & Rocha Advogados Associados

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