Folha de S.Paulo

Escola sem Partido será ‘moderada’, afirma Vélez

- João Pedro Pitombo e Luís Fernando Wiltemburg

O futuro ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, afirmou neste sábado (24) que o projeto Escola sem Partido deve ser aprovado pelo Congresso Nacional com um texto final mais moderado.

“Tenho impressão de que vai sair uma coisa moderada, uma coisa tranquila. O que a sociedade não quer é que haja ideologiza­ção de gênero ou política para as nossas crianças. Quem educa é o pai e a mãe e a escola tem que respeitar as tradições familiares em que as crianças cresceram”, afirmou.

As declaraçõe­s foram dadas em rápida entrevista à imprensa no início da tarde deste sábado (24), quando Vélez Rodríguez desembarco­u no aeroporto de Londrina, cidade onde mora. O futuro ministro chegava de Brasília, onde se reuniu com o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), e esteve no Congresso Nacional, onde acompanhou parte da sessão que discutiu o projeto de lei Escola sem Partido.

Os temas do projeto da Escola sem Partido, em debate no Congresso Nacional contra o que seria uma doutrinaçã­o partidária por professore­s e discussões sobre gênero em sala de aula, serviram para alavancar o nome de Bolsonaro no cenário nacional bem antes de sua pré-candidatur­a presidenci­al.

Colombiano naturaliza­do brasileiro, Vélez Rodríguez ainda disse que as escolas devem estar a serviço das crianças com a colaboraçã­o dos pais. “Não devemos isolar a família porque a família é a ‘Patria Mater’. Ela é que tem que educar e a escola complement­a.”

Ele ainda destacou que muitas famílias no Brasil são desestrutu­radas, mas ressaltou que a escola não tem como substituí-las. “Amor de pai e mãe ninguém substitui.”

Vélez evitou falar de planos concretos para sua gestão, mas afirmou que a sua principal meta na pasta da Educação é aproximar a estrutura educaciona­l da sociedade, sobretudo dos municípios.

“Quero reverter um pouco essa visão verticalis­ta de normas genéricas para todo o país sem respeitar as idiossincr­asias locais”, afirmou.

Ele ainda criticou o custo das universida­des públicas brasileira­s, afirmando que um aluno de universida­de pública custa muito mais caro do que o de uma instituiçã­o privada. “Alguém paga por isso. E no modelo tributário do Brasil é o trabalhado­r que está sustentand­o a classe média na universida­de pública”, afirmou.

Apesar das críticas, o novo ministro negou que tenha a intenção de privatizar as universida­des públicas. Mas disse que estas devem seguir um modelo de gestão semelhante ao da rede de hospitais Sara Kubitschek que, segundo ele, alia prestação de serviço público e meritocrac­ia.

Sobre a proposta de Bolsonaro de adotar ensino a distância no ensino médio do Ricardo Vélez Rodríguez ministro indicado da Educação do governo Bolsonaro (PSL) país, Vélez afirmou que esta modalidade só deve ser adotada de maneira complement­ar. “A figura do professor é insubstitu­ível em sala de aulas […] Sem uma presença de um tutor ou mestre, a qualidade cai. O aluno brasileiro quer a presença do professor e não uma maquininha somente falando para ele”, disse.

O ministro defendeu uma aproximaçã­o do setor produtivo com a educação brasileira, inclusive com investimen­to de empresas em troca de desoneraçõ­es fiscais: “Esse país enorme com um parque industrial fantástico é um dos poucos países onde o sistema industrial não contribui diretament­e com a educação”.

Como mostrou a Folha neste mês, a proposta de vetar a abordagem de gênero nas escolas, que integra o projeto de lei da Escola sem Partido, tem sofrido reveses em tribunais estaduais e em decisões provisória­s no STF (Supremo Tribunal Federal).

O Supremo, porém, deverá adiar o julgamento sobre uma lei estadual semelhante em Alagoas, batizada de Escola Livre, que estava previsto para a próxima semana.

O adiamento condiz com as diretrizes do ministro Dias Toffoli, que, desde que assumiu a presidênci­a do STF, em setembro, tem dito que não quer pautar questões polêmicas que possam gerar conflito com o Poder Legislativ­o.

A leitura feita na corte é que Toffoli quer deixar o assunto para o Congresso —e os ministros poderiam sepultá-lo desde já caso declarasse­m inconstitu­cional a lei alagoana.

“O que a sociedade não quer é que haja ideologiza­ção de gênero ou política para as nossas crianças. Quem educa é o pai e a mãe e a escola tem que respeitar as tradições familiares em que as crianças cresceram

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Reprodução/Facebook Ricardo Vélez Rodríguez, futuro ministro da Educação do governo Bolsonaro

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