Folha de S.Paulo

Fabrizio Fasano, patriarca de família de hotéis e restaurant­es, morre aos 83

Empresário pertencia à terceira geração de clã gastronômi­co ativo em SP há mais de um século A história mostraria como foi acertada para a gastronomi­a sua decisão, nos anos 1980, de abrir novamente um Fasano; e de perceber que seu filho Rogério era talhad

- João Perassolo

Patriarca da família dona do grupo de hotéis e restaurant­es Fasano, o empresário Fabrizio Fasano morreu na madrugada deste sábado (24), em São Paulo, aos 83 anos. A causa da morte não foi divulgada.

“Foi um superpai, querido por todos e com um coração enorme, muitas vezes maior do que deveria. Que Deus te receba com o mesmo amor que recebia a todos”, escreveu o filho Fabrizio Fasano Junior.

O empresário pertencia à terceira geração da família italiana que transformo­u a cena gastronômi­ca paulistana. Neto de Vittorio e filho de Ruggero, Fabrizio nasceu em Milão, em 1935, quando o pai concluía os estudos na cidade para assumir os negócios da família no Brasil. Tinha apenas dois anos quando chegou a São Paulo.

O avô Vittorio, que desembarco­u no país em 1902, foi dono da Brasserie Paulista, que se tornaria um dos endereços refinados da cidade. Seu filho mais novo, Ruggero, levou a marca à avenida Paulista nos anos 1960, quando abriu o Jardim de Inverno Fasano, no Conjunto Nacional.

Durante os anos dos festivais, Ruggero recepciono­u no Jardim Nat King Cole, Sammy Davis Jr., Sarah Vaughan e Marlene Dietrich.

Recebeu também o ditador cubano Fidel Castro e Dwight Eisenhower, presidente dos EUA entre 1953 e 1961.

No final dos anos 1960, o restaurant­e e a confeitari­a foram vendidos. Fabrizio trabalhava na editora Abril como publisher da revista Intervalo. Mais tarde, fundou com os amigos Luis Carta e Domingo Alzugaray a Editora Três, onde ficaria por alguns meses.

O dinheiro, no entanto, viria do ramo das bebidas, com a criação da marca de uísque Old Eight. Depois, lançou o primeiro vinho branco tipo alemão do país, o Weinzeller. Chegou a vender 500 mil caixas em um ano.

Em 1985, Fabrizio inaugurou o Fasano da rua Amauri e, logo em seguida, o da Haddock Lobo, unidade que se tornou um símbolo de São Paulo e da alta gastronomi­a.

Hoje, o grupo Fasano emprega cerca de 2.000 funcionári­os e conta com os restaurant­es Gero, Trattoria, Parigi, Nonno Ruggero, Boa Vista e outros, além do bar Baretto.

No setor hoteleiro, há hotéis Fasano em várias cidades, entre elas São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte e Punta del Este, no Uruguai.

O corpo de Fabrizio foi velado e enterrado no sábado, no cemitério da Consolação.

O empresário deixa a mulher, Daisy, e os filhos Fabrizio Fasano Junior, Rogério e Andrea, além de netos. tudo —mas até o fim não perdeu o sorriso gentil com que iluminava os salões de seus restaurant­es, e a forma até mesmo amorosa como tratava toda gente.

Mesmo nos últimos anos, quando já alquebrado foi se retirando do cenário e pouco era visto em público.

A elegância e a sensibilid­ade para com as pessoas são fundamenta­is para um restaurate­ur. A hospitalid­ade pode significar toda a diferença para o sucesso de um restaurant­e.

Basta ver inúmeros exemplos de casas com uma cozinha muito boa, mas que não decolaram por serem frias ou com proprietár­ios pouco calorosos.

É curioso que o milanês Fabrizio não tenha sido exatamente lapidado para o ramo ao longo da vida. Devia estar no sangue, já que seu avô (desde 1902) e seu pai dirigiram casas de sucesso na cidade. Quando chegou sua vez, porém, não se identifico­u com a atividade e tomou outro rumo.

De várias ocupações em que se envolveu, a mais ful- gurante foi a produção de um uísque brasileiro que fez história, o Old Eight.

Enriqueceu vendendo a bebida, enriqueceu mais ainda vendendo a marca para uma multinacio­nal. E perdeu tudo quando voltou a lançar uma marca própria, a Brazilian Blend, que fracassou de forma retumbante.

Conta-se que como empre- sário ele era errático, meio imprudente, promovia zigue-zagues que podiam transitar celerement­e do sucesso ao desastre.

Mas a história mostraria como foi acertada para a gastronomi­a sua decisão, tomada no início dos anos 1980, de finalmente retomar a tradição da família, abrindo novamente um Fasano; e de perceber que seu filho Rogério (então um garoto nos seus 20 anos estudando cinema em Londres) era talhado para tocar a empreitada, para a qual o recrutou.

Por tudo o que acompanhei desde então, mesmo de longe (pois não conheço os detalhes internos da empresa), Fabrizio teve a sabedoria de se colocar numa posição humilde nessa nova fase da vida.

Era conhecido no mercado, tinha a magia do nome que ainda soava como parte da história da cidade, era o dono da empresa —mas foi paulatinam­ente entregando o comando da locomotiva ao filho inicialmen­te inexperien­te, porém movido pela natural ambição juvenil e com um talento inato para o ramo.

Mesmo se retirando nos negócios, enquanto a saúde permitiu Fabrizio Fasano nunca deixou de circular pelos restaurant­es. Seu sorriso encantador, aliado a seu charme pessoal e à aura que o sobrenome contém, quase faziam com que o luxo e a excelência gastronômi­ca das casas virassem mero cenário para o calor humano que ele irradiava.

 ?? Bruno Poletti - 1º.dez.13/Folhapress ?? O empresário Fabrizio Fasano no hotel que leva seu sobrenome, nos Jardins, em São Paulo, em 2013
Bruno Poletti - 1º.dez.13/Folhapress O empresário Fabrizio Fasano no hotel que leva seu sobrenome, nos Jardins, em São Paulo, em 2013

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