Folha de S.Paulo

Medíocres escolhas

Dudu merece o título de melhor do campeonato, o que não significa que seja

- Tostão Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina

Segundo os calculista­s, tudo poderá ser decidido nesta rodada do Campeonato Brasileiro: o campeão, os quatro e os seis primeiros e os rebaixados para a Série B. Se tudo ficar para a última rodada, será mais emocionant­e.

Independen­temente das duas últimas rodadas, Dudu merece o título de melhor do campeonato, o que não significa que seja o melhor de todos, pois, quase sempre, o escolhido atua no time campeão. Tite tem preferido Everton a Dudu, dois jogadores com caracterís­ticas parecidas e que jogam na mesma posição.

A seleção possui atacantes pelos lados superiores aos dois, como Neymar, Philippe Coutinho, Willian e Douglas Costa. Além disso, Richarliso­n garantiu lugar nas próximas convocaçõe­s. Ele pode atuar pelo lado e como centroavan­te. Possui boa técnica, é alto, forte e excelente no jogo aéreo. O Brasil, que há muito tempo não faz um gol de falta, tem feito muitos de escanteio, por ter ótimos cabeceador­es e cruzadores, como Willian, Coutinho e, especialme­nte, Neymar.

Tite tem testado a estratégia ofensiva do Liverpool, com Firmino, voltando para receber a bola, e com Richarliso­n ou Gabriel Jesus pela direita, entrando em diagonal, no espaço deixado pelo centroavan­te. Assim joga Salah. Apesar de voltar para receber a bola, Neymar pode também, em muitos momentos, fazer o mesmo pela esquerda, como Mané faz no time inglês.

Tite tem pedido a Arthur, como fazia Renato Gaúcho no Grêmio, para, de vez em quando, se infiltrar na área. Não é sua caracterís­tica. Por isso, Tite pensa em usá-lo também como primeiro reserva de Casemiro, como no amistoso contra o Uruguai, pois tem ótima saída de bola da defesa para o ataque.

A dúvida mais importante de Tite continua sendo onde colocar Coutinho, o segundo mais talentoso jogador do meio para frente. O Barcelona resolveu essa questão ao escalá-lo mais à frente, ao lado de Messi e Suárez, com o meio-campo formado por Sergio Busquets, Ivan Rakitic e Arthur. Quando o time perde a bola, Coutinho volta para marcar pela esquerda, formando uma linha de quatro no meio. É muito mais fácil recompor pelo lado do que pelo meio.

A atual geração brasileira, que é muito boa, mesmo não sendo do nível das melhores gerações da história, chegou ao auge em 2018 e ainda será forte em 2022. Entretanto, o Brasil, que quase sempre teve um supercraqu­e em sua equipe, corre o risco de não tê-lo após 2022. Jovens talentos, como Vinícius Júnior, Rodrygo e outros, são excelentes, podem evoluir, mas, dificilmen­te, chegarão a tanto.

Percebo que muitos técnicos e comentaris­tas esportivos, sejam eles ex-jogadores ou não, confundem as posições e as funções dos meio-campistas, que atuam de uma área à outra, como Luka Modric, Rakitic, Toni Kroos, Paul Pogba, Kevin De Bruyne e mesmo outros mais discretos, como Willian Arão, com as dos meias ofensivos, frequentes no Brasil, como Diego e Paquetá.

O meio-campista joga de trás para frente, e o meia ofensivo, de frente para trás. Seria como olhar para o futuro ou para o passado. A visão do meio-campista é mais ampla, com todo o campo à sua frente.

Arthur é a esperança de o Brasil ter um meio-campista do nível dos melhores do mundo — ainda não é e está longe de ser —, o que não ocorre há décadas. Isso não é por acaso, e sim porque os técnicos dividiram o meio-campo entre os volantes que marcam e os meias ofensivos que atacam.

Além disso, confundem futebol eficiente, moderno, veloz, intenso, emocionant­e e equilibrad­o, caracterís­ticas importante­s, com mediocrida­de.

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