Folha de S.Paulo

Louca por buldogues

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Quando realizou seu sonho de ter a buldogue Mia, sua “primogênit­a”, a administra­dora Luciana Shen, 40, nem sabia que cães de raça eram abandonado­s. Mas chegou ao seus ouvidos que uma havia sido deixada na Vila Santa Catarina, zona sul. “Você se mata para pagar um filhote desses e topa com um jogado na rua? Achei que era exceção”, conta.

Por medo de que pegassem a cadela, batizada de Catarina, para reprodução, Luciana decidiu resgatá-la. Logo viu que a exceção era regra, pois passou a ser procurada para ajudar em outros casos de abandono. “Tem muita gente que compra e depois desiste porque o animal dá gasto, solta pêlo, porque nasceu uma criança e ela tem alergia… Sem contar os descartes de canis clandestin­os”, diz a protetora. “Jogam o cachorro fora.”

Assim também foi com Pixel, buldogue francês colocado à venda como produto em um site na internet.

Pela foto, Luciana viu que o cachorro estava com sarna e muito debilitado. “A dona queria mil reais. Era o que eu tinha para pagar meu condomínio e a conta de luz naquele dia”, diz ela, que não pensou duas vezes, sacou o dinheiro e foi atrás do animal.

A ideia era tratar a sarna (estava totalmente sem pêlos), recuperar seu peso e doá-lo. Mas Pixel foi ficando, ficando... e conquistou a família. “Não tem um dia em que ele não venha me receber na porta, é muito apegado. Vejo a gratidão nos seus olhos.”

De lá para cá, Luciana cuidou e doou cerca de 60 cachorros. Investiu no ramo —tem uma loja de produtos pet em Pinheiros— e continua os resgates.

As dívidas com os peludos são bancadas pelo próprio bolso e por doações, que chegam principalm­ente das mãos de tutores que têm cães da mesma raça.

Para quem pensa em ter um buldogue, ela avisa: dá trabalho, sim. “Se você tem apego à sua cadeira, saiba que ele vai comer. Vai ficar doente e você vai gastar com veterinári­o. Por isso, se resta alguma dúvida, não compre nem adote”, diz.

Não importa o que venha acontecer, porque o bicho vai estar ali —e ele depende só de você.

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