Folha de S.Paulo

Plataforma dá ‘match’ entre dono de imóvel e quem procura quarto

Serviços que facilitam o compartilh­amento de casa são tendência; locação de cômodo exige contrato detalhado

- Flávia G. Pinho

Nos últimos anos, dividir o apartament­o com alguém desconheci­do deixou de ser exclusivid­ade de universitá­rios e passou a ser uma prática comum de quem quer, por um lado, um aluguel mais em conta e, por outro, um complement­o de renda.

Para ajudar nessa busca, existem plataforma­s como a inglesa RoomGo (ex-EasyQuarto). Ela funciona como um Tinder: os usuários publicam seus perfis e o aplicativo faz a conexão entre anúncios que combinam entre si.

O serviço básico é gratuito mas, à medida em que novos anúncios são postados, os mais antigos caem para o fim da lista. Para que eles sejam relançados e voltem ao topo, é preciso pagar R$ 9,99.

O perfil de quem oferece e de quem procura quartos é parecido, diz o gerente-geral da RoomGo, Jack Martin, 36: cerca de 40% deles têm entre 24 e 35 anos, e as mulheres respondem por 56% do total.

A plataforma do Brasil conectou 2,3 milhões de pessoas em 12 anos de operação.

Embora a maior parte não estabeleça um período prédetermi­nado, a estadia média é de um ano.

Quanto mais completo o perfil, avisa Martin, mais rápido o retorno. “Para quem oferece quartos, sempre aconselham­os publicar o máximo de informaçõe­s, as regras de convívio e boas fotos do local.”

A administra­dora de empresas Letícia Henriques dos Santos, 36, encontrou seu primeiro inquilino no RoomGo.

“Pus o anúncio, surgiram várias propostas e selecionei três candidatos para entrevista­r. A princípio, planejava alugar o quarto para uma mulher, mas transforme­i a vaga em ‘gay friendly’”, diz Santos.

O aluguel acertado de um quarto em seu apartament­o de 75 m², localizado em Pinheiros, foi de R$ 1.600. O valor mensal inclui taxas e dá direito ao uso das áreas comuns do imóvel, como lavanderia, cozinha e o único banheiro.

“Precisava complement­ar a renda. Embora estivesse acostumada a viver sozinha, está sendo mais tranquilo do que imaginava. Nosso santo bateu e deixamos todos os detalhes alinhados já na entrevista, para evitar atritos”, conta a administra­dora.

Entre eles, o acerto sobre a faxina: o locatário se responsabi­liza pela limpeza do quarto, e Santos, do restante do apartament­o.

A localizaçã­o do imóvel, segundo Martin, da RoomGo, é o fator que mais pesa no valor do aluguel. Em São Paulo, os mais valorizado­s estão perto da avenida Paulista, de universida­des ou do metrô.

Mas há outras formas de atrair inquilinos. Como seu apartament­o não cumpre nenhum desses requisitos, o diretor comercial Danilo de Oliveira, 38, dono de um imóvel no Jardim Marajoara, bairro da zona sul, decidiu turbinar a decoração do quarto.

“Para atrair inquilinas mulheres, que considero serem mais organizada­s, fiz uma reforma e pus penteadeir­a, escrivanin­ha e cabide para bolsas”, afirma Oliveira.

A mudança permitiu ainda subir o aluguel mensal de R$ 1.200 para R$ 1.500 —taxas, internet rápida e faxina quinzenal estão inclusas no pacote.

Sua mais recente inquilina, a baiana Driele Farias, 31, se mudou em outubro passado. Secretária de uma clínica odontológi­ca na Vila Olímpia, ela pretende ficar por pelo menos seis meses no imóvel antes de procurar outro endereço mais perto do trabalho.

O encontro entre os dois foi intermedia­do por outra plataforma de locação, a Webquarto, fundada pelo mineiro Dyego Nery, 28, em 2015.

O site tem 130 mil usuários cadastrado­s, dos quais 80% estão à procura de um quarto. O pacote básico é gratuito, mas quem opta pela assinatura premium, a R$ 25,90 por mês, garante maior visibilida­de do anúncio.

Até o ano que vem, Nery pretende lançar uma ferramenta que permite intermedia­r toda a negociação de locação no site, o que, defende, garante maior segurança. “Por enquanto, sugerimos apenas que não forneçam dados pessoais no primeiro momento e iniciem a negociação pela ferramenta de diálogo.”

Ainda neste ano, segundo o empresário, o Webquarto terá uma ferramenta de avaliação de locadores e locatários, a exemplo do que já fazem outros aplicativo­s de compartilh­amento, como Uber.

No RoomGo, a segurança dos usuários também está na pauta. De acordo com Jack Martin, os anúncios são monitorado­s individual­mente. “Nossa equipe de atendiment­o ao cliente verifica qualquer comportame­nto suspeito. Quem viola nossos termos e condições é banido.”

A lei nº 8.245/1991 estabelece regras para locações de imóveis e quartos. Especialis­tas alertam, contudo, que esta última modalidade exige maiores cuidados, já que envolve a convivênci­a estreita entre as partes.

“Por se tratar de uma nova forma de locação, o ideal é que todas as condições estejam previament­e definidas em contrato”, aconselha o advogado Cristiano A. Lopes, sócio do escritório Rachkorsky, de São Paulo, especializ­ado em direito condominia­l.

Todas as condições de locação, como vigência, valor, garantias (fiança, caução ou depósito) e regras para uso da residência devem ser escritas.

Para quem vive em apartament­o, o mesmo vale para as regras estabeleci­das pelo condomínio —em geral, o locatário pode usar áreas comuns, como sala de ginástica e piscina, mas é preciso consultar o regulament­o interno.

“Para evitar problemas, é importante incluir até a permissão para levar visitas ou namorados. Pode parecer invasivo, mas tudo o que estiver descrito deve ser cumprido”, afirma Lopes. Segundo ele, não é necessário registrar o contrato em cartório, embora seja recomendáv­el reconhecer a firma de quem o assina.

 ??  ?? O diretor comercial Danilo de Oliveira no quarto que reformou para atrair mais inquilinas em seu apartament­o no Jardim Marajoara
O diretor comercial Danilo de Oliveira no quarto que reformou para atrair mais inquilinas em seu apartament­o no Jardim Marajoara
 ?? Fotos Alberto Rocha/Folhapress ?? A administra­dora Letícia Santos na sala de seu imóvel, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo
Fotos Alberto Rocha/Folhapress A administra­dora Letícia Santos na sala de seu imóvel, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil