Folha de S.Paulo

Construtor­as renovam república com espaços de lazer e segurança

Quartos mobiliados e serviços como lavanderia comunitári­a são diferencia­is

- Clara Balbi

As dificuldad­es típicas de quem vive em uma república universitá­ria, como dividir as contas, administra­r as tarefas domésticas e encontrar um fiador, podem estar com os dias contados.

Ao menos é o que prometem os prédios residencia­is estudantis, que se propõem a substituir o atual modelo de repúblicas.

Inspirados nos dormitório­s americanos, eles oferecem contratos mais flexíveis de aluguel, reúnem todas as despesas em uma única mensalidad­e (que inclui aluguel, eletricida­de, IPTU e internet) e já vêm mobiliados.

Neste ano, foram inaugurado­s quatro empreendim­entos do tipo em São Paulo: o Amora, na Vila Mariana; o Share, na Consolação; o Toca da Raposa, na Bela Vista, e o 433, em Campos Elíseos, estes dois últimos da Uliving.

Junto ao Uliving Bela Vista, aberto em 2015, esses prédios somam cerca de 500 vagas. Outras mil devem ser inaugurada­s nos próximos dois anos.

Todos ficam perto de instituiçõ­es de ensino e a cerca de dez minutos a pé de estações de metrô, pré-requisito para atrair os estudantes.

Os prédios buscam ainda reproduzir o clima de descontraç­ão universitá­ria com uma lista de espaços comunitári­os que inclui salas de jogos e terraços com churrasque­ira, além de lavanderia e cozinha.

O maior diferencia­l é, no entanto, a segurança. Equipados com portarias 24 horas, eles realizam um controle estrito de entrada e saída de moradores e visitantes.

Alguns, como o Amora e o Share, das construtor­as homônimas, também limitam as vagas a estudantes —é preciso comprovar vínculo com uma instituiçã­o de ensino para alugar uma unidade.

Com taxa de ocupação de 85%, as vantagens das repúblicas profission­ais parecem compensar seus preços, relativame­nte mais altos que os de aluguéis convencion­ais.

Começando em R$ 900 (um quarto compartilh­ado no Amora), uma unidade pode custar até R$ 3.650 mensais (uma quitinete individual com cozinha e sacada no Share).

Alugar um apartament­o de um quarto em um edifício convencion­al perto de um campus na cidade fica entre R$ 1.500 e R$ 2.500, segundo levantamen­to do Grupo ZAP.

Não que os jovens se preocupem demais com o assunto. De acordo com as administra­doras, são seus pais que batem o martelo em relação ao aluguel, além de pagarem as contas no final do mês.

A importânci­a dos pais é tanta que as equipes das repúblicas são treinadas para prestar assistênci­a a eles.

A Uliving, especializ­ada nesse tipo de empreendim­ento, foi além e deixa algumas de suas unidades permanente­mente reservadas para visitas familiares aos fins de semana.

“Percebemos que os pais precisavam sentir que alguém estava realmente cuidando de seus filhos”, diz Juliano Antunes, sócio da empresa.

Cuidando até demais, na opinião da aluna de publicidad­e da Universida­de Presbiteri­ana Mackenzie Lara Porto, 20.

Moradora do Share Consolação, ela reclama do horário máximo para entrada de convidados no edifício, à meianoite, e da restrição de três noites mensais em que pode receber amigos (no seu caso, o namorado) para pernoitar.

“Um problema desse mercado é disciplina­r os estudantes e, ao mesmo tempo, obter a satisfação deles”, afirma Fabrício Mitre, sócio da Share Student Living e presidente da Mitre Realty. “Dentro do razoável, temos flexibiliz­ado. Mas é preciso haver regras.”

Apesar dos desafios operaciona­is, especialis­tas e empresário­s apostam no desenvolvi­mento do setor.

A favor, contam os níveis elevados de ocupação, a baixa sazonalida­de desse tipo de moradia e o cresciment­o do número de universitá­rios. No Brasil, o número de matrículas nas universida­des quase triplicou de 2000 até 2017, indo de 2,5 milhões para quase 8 milhões, segundo o Censo de Educação Superior do Inep.

A criação do Sisu (Sistema de Seleção Unificada) pelo Ministério da Educação em 2009 também foi decisiva para o desenvolvi­mento das residência­s, de acordo com Antunes, da Uliving. O sistema permitiu um fluxo interestad­ual de estudantes muito maior.

A empresa tem dois prédios no interior de São Paulo (Sorocaba e Ribeirão Preto) e outro em Vespasiano (MG).

Operando em pequena escala, com cerca de 15 camas por edifício, a construtor­a Amora inaugurará duas novas sedes em 2019, uma em Alto de Pinheiros e outra no Butantã, ambas na zona oeste da capital.

Em 2020, é a vez de dois mega empreendim­entos do gênero abrirem as portas: um prédio fruto de parceria da ESPM com a Vitacon, na Vila Mariana, na zona sul de São Paulo, que terá 370 camas, e a segunda unidade do Share, no Butantã.

Os dois têm perfil mais luxuoso, com academias de ginástica, por exemplo.

O economista do Grupo ZAP Sergio Castelani também enxerga potencial de cresciment­o das repúblicas profission­ais no restante do país.

“Enquanto elas não existiam, era impossível medir a demanda, mas hoje vemos que há muito espaço para crescer.”

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Fotos divulgação Piscina no terraço do empreendim­ento Share Consolação, em São Paulo, voltado para universitá­rios
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Cozinha compartilh­ada do Uliving 433, em Campos Elíseos, SP

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