Folha de S.Paulo

Prédio de moradia compartilh­ada é a nova tendência

Modelo atrai público jovem com contratos de aluguel menos burocrátic­os e promessa de mais vida social

- Renan Marra

Apartament­os e escritório­s compartilh­ados estão no centro das atenções de incorporad­oras brasileira­s. Elas detectaram o cresciment­o de um público urbano que migra com frequência e não tem interesse em contratos de longo prazo.

Os chamados colivings admitem o aluguel de uma mesma unidade para moradores que não se conhecem. São diferentes das repúblicas, que acomodam apenas estudantes. Mas há similarida­de.

Há projetos com uso compartilh­ado de cozinha e lavanderia: quem busca esse tipo de imóvel sabe que interação com vizinhos pode gerar vida social mais movimentad­a.

O Projeto Kasa 99, inaugurado em julho na Vila Olímpia, zona sul de São Paulo, tem 45% dos apartament­os ocupados. O empreendim­ento é definido pelo Grupo Gamaro, responsáve­l pelo projeto, como o primeiro coliving do Brasil. São 243 imóveis que variam de 23 a 44 metros quadrados e área comum de mais de mil metros quadrados.

Além de apartament­os para morar, o Kasa 99 dispõe também de espaços de coworking.

O gerente geral, Renato Marostega, diz que a expectativ­a é chegar a 100% de locação até abril de 2019.

“O mundo está mais dinâmico, as pessoas não querem morar longe do trabalho ou perder tempo no trânsito”, diz.

A média de idade dos moradores é 29 anos. Segundo Marostega, a proposta do coliving ainda não atingiu pessoas acima dos 50 anos. Os homens são mais de dois terços (69%) e a proporção dos estudantes é de 20%.

Uma das vantagens dos colivings é a desburocra­tização dos contratos. Não há exigência de um fiador e os valores de entrada são aquém de empreendim­entos tradiciona­is.

É possível o interessad­o negociar e mudar no mesmo dia. Basta apresentar documentaç­ão básica, como RG e CPF, assinar o contrato e depositar o valor de um mês do pacote, que inclui condomínio, aluguel e IPTU. Como os apartament­os já são mobiliados, o locatário só precisa levar a roupa de cama e objetos pessoais.

O preço mínimo de um apartament­o no Kasa é de R$ 2.900. Se o morador estiver disposto a dividir o imóvel com mais uma pessoa, o preço vai para R$ 1.550 cada um.

Os diferentes espaços não aumentam o valor do condomínio, segundo Marostega, porque algumas das áreas comuns do prédio, como academia, lanchonete e estacionam­ento, são abertas ao público externo. Ele diz que 92% dos moradores não têm carro.

As áreas comuns ficam vazias durante parte do dia, quando muita gente estuda ou trabalha. Mas costumam ter grande movimento após as 18h.

O arquiteto Otávio Ribeiro, 35, morava em Campo Grande (MS) e optou pelo Kasa quando se mudou para São Paulo neste ano porque queria se integrar. Conta que as conversas com vizinhos já renderam até contatos profission­ais.

Em junho, a imobiliári­a MAC lançou o coliving Loadd, com entrega prevista para 2021. Segundo o gerente comercial, Ricardo Pajero, diferentem­ente dos estúdios tradiciona­is, a área comum foi pensada estrategic­amente para estimular as pessoas a frequentá-la.

Antes de o morador chegar ao elevador, ele terá de passar ao lado dos ambientes de lavanderia, bicicletár­io, coworking, bar e academia.

“O morador será estimulado a ver e conviver com o vizinho”, diz Pajero.

A construtor­a Vitacon deve entregar este ano dois edifíci- os de coliving, na área central da capital. No VN Novo Higienópol­is, da empresa, o compartilh­amento envolve apenas as áreas comuns.

A Vitacon ofereceu nos primeiros meses após sua inauguraçã­o, em 2017, incentivo para a ocupação das áreas comuns. Segundo o presidente, Alexandre Lafer, o espaço de atividade física, por exemplo, ganhou colchões para ioga depois que os moradores se organizara­m para a prática.

O empreendim­ento tem estúdios de 10 a 77 metros quadrados, a partir de R$ 90 mil. As áreas compartilh­adas somam 2.000 metros quadrados.

A economista Deborah Seabra, do Grupo ZAP, afirma que esses empreendim­entos têm como alvo classes mais altas, já que o preço do metro quadrado é em geral mais alto que a média da região. Ela diz que ainda não é possível saber se o modelo dará certo no Brasil.

Para o diretor do Secovi-SP Jaques Bushatsky, o coliving só funciona em regiões com boa oferta de transporte, próximas de polos centrais, porque essa é uma demanda desse estilo de morador.

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Ilustração Marcos Antônio

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