Folha de S.Paulo

SELVA DE PEDRA

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Esporte radical: comer em SP no século 20

Aarqueolog­ia da cena gastronômi­ca paulistana pode desenterra­r casos assombroso­s, no pior sentido possível. Eu me lembro de um domingo em janeiro de 1986, quando cheguei de minha primeira viagem internacio­nal. Meus pais me levaram para comer na trattoria Via Veneto, na alameda Barros, então meu restaurant­e favorito.

Pedimos nhoque ao sugo, tanto eu quanto meu pai. Eu limpei o meu prato, o velho deixou sobrar. Puxei o prato dele para mim e, depois de algumas garfadas, encontrei meia barata. Meia barata... o que ocorrera com a outra metade? Terror.

No mesmo ano, outro episódio de horror em outro restaurant­e italiano. Fiscais da vigilância sanitária apareceram sem aviso no Remo e Romulo, numa esquina da Pedroso de Morais.

Um queijo parmesão jazia sobre uma mesa. Cheirava mal. Antes que os inspetores o averiguass­em, o gerente da casa tomou a iniciativa de parti-lo ao meio. “É um queijo muito especial”, teria dito o homem. De fato: dentro dele residia um rato.

O caso se impregnou na minha mente. Está registrado nos jornais da época. Outros, porém, habitam o imaginário do paulistano, mas sem comprovaçã­o documental. Eu, pelo menos, não a encontrei. Vou tratálos como lendas urbanas.

Uma famosa churrascar­ia do centro, ainda em funcioname­nto, teria sido autuada por dessalgar as carnes da feijoada em uma banheira, no banheiro dos funcionári­os.

Noutra churrascar­ia da região central, executivos de uma montadora de automóveis se reuniam para celebrar o fim do ano. De repente, o teto começou a rugir. Uma ratazana do tamanho de um cocker spaniel despencou sobre a mesa dos colegas, junto com o forro.

Comer em São Paulo no século passado era um esporte radical.

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FABRIZIO LENCI

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