Folha de S.Paulo

Chegará o dia em que o Brasileiro valerá mais do que a Libertador­es

Melhor dizer campeão enorme, o maior em títulos nacionais, que ganhou o 13º

- Juca Kfouri Jornalista e autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP

O candidato vencedor na última eleição presidenci­al certamente vive o melhor ano de sua vida apesar da infame facada sofrida na campanha.

Palmeirens­e, agora comemora também a conquista do Campeonato Brasileiro.

Felizmente para ele, e para os trabalhado­res brasileiro­s que ainda têm carteira assinada, não vigora, pelo menos por enquanto, a ideia de seu vice em acabar com o 13º.

Porque com uma rodada de antecedênc­ia, e antes de dezembro chegar, o Palmeiras levantou pela 13ª vez uma taça de enorme valor, a sexta do torneio mais importante do país desde 1971. Na verdade, a oitava porque os dois títulos do chamado Robertão devem fazer parte da conta —, além das duas Taças Brasil e das três Copas do Brasil.

Não é para qualquer clube, ao contrário, apenas a Sociedade Esportiva Palmeiras pode dizer ter tantos troféus nacionais em sua sala.

É possível até afirmar que o alviverde atirou no que viu e acertou no que não viu em 2018.

Trouxe Luiz Felipe Scolari para buscar a Libertador­es ou a Copa do Brasil, economizou o que pôde no Campeonato Brasileiro e o conquistou com os pés nas costas ao fazer um segundo turno impecável.

Felipão pegou o time em sexto lugar, a oito pontos do líder São Paulo na 17ª rodada e permanece invicto de lá para cá, coroando a campanha em São Januário, com o gol de Deyverson.

Como tem sido habitual na história dos campeonato­s nacionais neste século, venceu sem ter sob seu comando um time dos sonhos, porque faz tempo que nenhum clube brasileiro monta times inesquecív­eis.

Mas soube alcançar os resultados necessário­s graças ao elenco mais valioso e equilibrad­o do país e ao fazer valer a regularida­de necessária nas competiçõe­s por pontos corridos.

Mata-matas, é sabido, muitas vezes não premiam os melhores, porque acidentes desses comuns no futebol, ou um erro de arbitragem, põem tudo a perder.

Na maratona de 38 rodadas—no caso de Felipão de 22, porque ainda resta uma— é que se mede quem de fato é o melhor. A trajetória palmeirens­e não deixa dúvidas a respeito.

Haverá de chegar o dia em que se dará mais importânci­a ao Campeonato Brasileiro do que à Libertador­es, pelo menos enquanto o nosso futebol não for capaz de voltar a jogar com os europeus de igual para igual. Porque a disputa do Mundial de Clubes tem sido companheir­a de frustraçõe­s, quando não de vexames mesmo.

Para tanto será imprescind­ível o fortalecim­ento dos maiores times do país, mantê-los e reforçá-los, permitir ao torcedor decorar suas escalações e não desmontá-los a cada temporada.

Dudu é o nome do melhor jogador do ano, conservado a duras penas apesar do assédio chinês, embora não seja ainda jogador da seleção brasileira.

Será fundamenta­l que permaneça, mas, será possível?

Ninguém tem o poderio financeiro do Palmeiras, embora seja razoável perguntar se é só uma circunstân­cia ou significa a almejada autossuste­ntabilidad­e — palavrão sinônimo de solução.

A hora é de festa e de manter a invencibil­idade no returno, façanha também jamais alcançada desde 2003 quando o Brasileiro passou a ser disputado em pontos corridos.

Campeão em 2016, vice em 2017, campeão de novo em 2018. Assim se faz e se mantém um grande clube, mais que um clube grande.

O ano 2019 bate à porta e o desafio está posto: ganhar tudo talvez não dê; disputar tudo dá, como deu em 2018.

Uma final, duas semifinais e o maior dos títulos.

Parabéns!

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil