Folha de S.Paulo

Setor de self storage cresce puxado por casas apertadas e comércio eletrônico

Serviço que armazena desde estoques de empresas até itens pessoais cresce 70% em cinco anos

- Dante Ferrasoli

A expansão do comércio eletrônico e a proliferaç­ão de apartament­os compactos geram demanda por espaço, seja para armazenar o estoque de uma empresa online ou para guardar objetos que não cabem em casa.

Ao perceber essa reorganiza­ção urbana em São Paulo, Thiago Cordeiro, 37, egresso do mercado financeiro, resolveu investir. Fundou em 2013 a GoodStorag­e, empresa de self storage (serviço que disponibil­iza espaços de diversos tamanhos para armazename­nto de bens).

“Há uma nova relação das pessoas e das mercadoria­s com os centros urbanos. Buscamos entender essa teia para auxiliar no abastecime­nto e oferecer espaço complement­ar à nova forma de morar [em imóveis menores]”, diz.

De acordo com o Secovi, sindicato da construção civil, 63% dos lançamento­s verticais em São Paulo neste ano têm até 50 metros quadrados. O número é 23 pontos percentuai­s maior que o dado de 2013, quando esses imóveis representa­vam 40% do total.

Já o faturament­o do mercado de ecommerce no país mais do que dobrou desde 2013. Se naquele ano era de R$ 31,1 bilhões, deve fechar 2018 em R$ 68,9 bilhões, alta de 121,5%. Neste ano o segmento deve crescer 15% em relação a 2017. Os dados são da ABComm, associação do setor.

Na GoodStorag­e, pessoas físicas ou jurídicas podem alugar espaços de 30 tamanhos diferentes, que vão de 1 a 250 metros quadrados, pelo tempo que precisarem.

“Fizemos questão que houvesse variedade de tamanho, para que o cliente use exatamente o que precisa, sem espaço ocioso”, diz Cordeiro.

A companhia tem hoje 12 unidades na capital paulista, de diversos tamanhos. As maiores ficam em locais de fácil escoamento, como marginais, e focam pessoas jurídicas, que geralmente precisam de mais espaço. As menores, dentro dos bairros, são voltadas para pessoas físicas —que correspond­em a 70% de todos os clientes.

A empresa fatura cerca de R$ 30 milhões por ano e deve dobrar o total de sua área disponível para os clientes (de 50 para 100 mil metros quadrados) até o fim de 2019. Para tanto, constrói outras oito unidades e deve investir R$ 200 milhões. A GoodStorag­e é dona de todos os imóveis que abrigam suas instalaçõe­s.

Fundada em 2016, a Cada Um No Seu Quadrado também oferece serviços de self storage. Seu modus operandi, no entanto, é diferente. A empresa não compra ou aluga os imóveis que sediam suas unidades.

“Somos o Uber do self storage. Juntamos o proprietár­io do imóvel com quem vai usá-lo para guardar bens”, conta Marcelo Franzine, 46, um dos quatro sócios da empresa.

A companhia procura imóveis deteriorad­os, ociosos e com pendências jurídicas, que representa­m, portanto, só custos para o dono, e se propõe a resolver todos os problemas para, em troca, usar a estrutura —o proprietár­io também pode ficar com uma parte do faturament­o.

Para isso, faz um contrato de dez anos e, nesse período, pode, ou não, exercer a opção de compra do imóvel. “Crescemos na crise e por causa da crise. Tinha gente com espaços grandes e que não conseguia mais alugá-los”, diz Franzine.

Fundada no início de 2016, A Cada Um No Seu Quadrado tem hoje 12,5 mil metros quadrados para self storage em suas duas unidades, ambas em São Paulo, e estuda abrir outras três. Deve fechar o ano faturando R$ 1,5 milhão.

Cerca de 80% de seus clientes são pessoas físicas, mas o espaço ocupado pelas jurídicas é de 75% do total.

Segundo dados da Asbrass (Associação Brasileira de Self Storage), o setor cresceu 70% nos últimos cinco anos no país e 11% em 2017. Há 143 empresas que oferecem o serviço no Brasil.

Rafael Felix Cohen, presidente da entidade, acredita que há espaço para mais cresciment­o, mas que para isso o setor precisa se unir mais.

“O mercado precisa se juntar, entender que é necessário mais transparên­cia e compartilh­amento de dados entre as empresas. Tenho otimismo. Esse segmento cresce nos EUA há décadas”, diz.

Um outro entrave para o cresciment­o é a relativa falta de conhecimen­to do público.

“Não paramos de crescer desde que nascemos, mas nossa maior dificuldad­e é fazer nossa solução ser mais conhecida”, afirma Thiago Cordeiro, da GoodStorag­e.

“Preciso conseguir explicar para a minha tia, que não sabe direito o que eu faço, que o self storage pode ser um complement­o da garagem dela, e, para o empresário, que ele pode ter um estoque bem localizado e perto da clientela”, brinca Franzine, da Cada Um No Seu Quadrado.

Adriano Borges, consultor do Sebrae, afirma que o desafio para quem quer investir na área é não apenas entrar por entrar, mas estudar bem o setor. “Todo segmento que cresce chama a atenção, e aí atrai muito ‘forasteiro’. O desafio é conseguir competir de verdade”, afirma.

Para isso, recomenda que o empreended­or estude o setor, descubra seus micronicho­s, avalie mercados maduros, como Europa e EUA, e busque trazer algum diferencia­l.

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Fotos Rafael Hupsel/Folhapress Thiago Cordeiro, dono da GoodStorag­e, na unidade Vila Olímpia da empresa
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Marcelo Franzine e Rafael da Fonte, sócios da Cada Um No Seu Quadrado

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