Folha de S.Paulo

Final da Libertador­es é adiada pela 3ª vez na Argentina

Após novo adiamento da decisão do torneio, presidente­s de Boca e River terão reunião na Conmebol nesta terça (27)

- Sylvia Colombo

A final impossível. Enquanto em decisões normais de campeonato­s de futebol a tensão está no placar, nos avanços e falhas de cada equipe, a partida que definiria o vencedor da Copa Libertador­es de 2018, entre Boca e River Plate, teve a atenção voltada para cartolas, árbitros e políticos, que decidiriam se o confronto ocorreria ou não.

Para o espanto de torcedores, jornalista­s e comentaris­tas, pela terceira vez ela foi adiada —o primeiro jogo, que terminou em empate (2 a 2), já havia sido postergado um dia, por conta da chuva que havia castigado o gramado da Bombonera.

Desta vez, foi ante um pedido do Boca Juniors que alegou não haver a segurança necessária no Monumental de Nuñez para jogar depois que o ônibus que levava os jogadores para o estádio no sábado (24) foi atingido por pedras atiradas por torcedores e gás de pimenta lançado pela polícia.

Com jogadores hospitaliz­ados e clima tenso no resto do plantel, o Boca batia o pé na manhã deste domingo (25) para também não jogar neste dia, após ter suspendida a partida de sábado. A alegação era que ainda não havia segurança garantida. Nem clima.

Os jogadores estavam nervosos, e os dirigentes planejavam pedir os pontos do jogo, como ocorreu no episódio conhecido como “ataque do gás de pimenta”.

Na ocasião, em partida válida pelas oitavas de final da Libertador­es em 2015, os jogadores do River Plate, que ganharam por 1 a 0 o jogo de ida e empatavam sem gols na volta, foram atacados pela torcida rival com gás de pimenta. O Boca sofreu punição e o River se classifico­u.

Agora, os dirigentes “xeneizes” pedem a mesma pena ao River. Este, por sua vez, responde que não se trata de uma situação equivalent­e, uma vez que o incidente, que deixou ferido, entre outros, o capitão da equipe, Pablo Pérez, havia ocorrido do lado de fora do estádio.

A Conmebol primeiro desconside­rou o pedido de que o jogo não ocorresse neste domingo (25). Depois, voltou a suspender a partida.

Agora, o destino dessa final que parece assombrada se decidirá numa reunião na terça-feira (27), entre os dirigentes dos dois times e a Conmebol. Várias alternativ­as foram vazadas para a imprensa durante o dia, mas nenhuma delas confirmada. Entre elas, a de que se jogaria em outra cidade da Argentina, uma vez que Buenos Aires será palco da Cúpula do G20 na próxima semana, ou mesmo que se jogasse pouco antes de começar o Mundial de Clubes da Fifa, que começa em 12 de dezembro. O River defende jogar no sábado, dia 8, mas será preciso convencer o Boca.

Até agora, as posições dos dois presidente­s são opostas. Daniel Angelici, do Boca, afirmou que não espera “uma remarcação da data, fizemos um pedido pelos pontos da partida, como foi feito contra o Boca em 2015”.

Já Rodolfo D’Onofrio, presidente do River Plate, disse que a final tem de ser jogada “no estádio do River”, ao declarar que não aceitava que o jogo fosse em outro estádio, uma vez que a primeira final foi na Bombonera. Também recusou a opção de um jogo sem público, outra hipótese levantada para evitar confusão.

Buenos Aires havia despertado em clima tenso, e um turista desavisado poderia pensar que se esperava na capital argentina um ataque de um Exército inimigo. Desde a madrugada, a polícia e a prefeitura começaram a cercar o Monumental com barreiras metálicas. Desta vez, pelo menos uns 100 metros mais longe de onde estavam no sábado (24).

No local onde estavam concentrad­os, na manhã deste domingo (25), os torcedores do Boca, a bronca era enorme.

“Queremos que o jogo não ocorra e que o Boca fique com os pontos. A agressão ocorreu em território do River e o River tem de ser penalizado”, disse o aposentado Teodoro Muñoz, 69, que disse ter passado a noite ali, “para dar ânimo aos jogadores”.

Do lado dos torcedores do River, que ao meio-dia (13h no Brasil) ainda não podiam entrar no estádio, também havia inquietaçã­o.

“Por causa de um par de loucos, toda a torcida vai sofrer para entrar e sair do estádio”, disse Antonio Ruiz Costa, 42, que no sábado veio com os dois filhos adolescent­es, mas que no domingo voltou sozinho. “Como vou expor os dois meninos a isso? Eles viram as placas caindo e a multidão correndo, com a polícia dando cacetadas. Não exponho mais minha família a isso”.

Sobre a possibilid­ade de a Conmebol aceitar um possível pedido do Boca de que a partida não se jogue e o rival fique com os pontos, o torcedor se mostrou muito nervoso, assim como outros ao seu redor. “Isso não pode ser, a agressão foi isolada e do lado de fora do estádio, por uns indivíduos que não são torcedores, e sim delinquent­es.”

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Alejandro Pagni/AFP Torcedor do River Plate aguarda o jogo que não aconteceu no Monumental

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