Ucrânia aprova lei marcial após Rússia capturar navios
O Parlamento ucraniano aprovou a lei marcial no país nesta segunda (26), um dia depois das forças navais russas capturarem três navios ucranianos no estreito de Kertch, na região entre os países.
A imposição da lei marcial foi feita por meio de um decreto do presidente ucraniano, Petro Poroshenko, que disse ter informações de inteligência que apontam que as forças russas estão “prontas para uma invasão imediata da Ucrânia”.
Poroshenko afirmou aos parlamentares que a medida valerá apenas para as regiões do país que fazem fronteira com Rússia, Belarus e Transdnístria, região separatista da Moldova. Segundo o presidente, essas são as linhas de frente de potenciais ataques russos ao país.
A lei marcial inclui mobilização parcial da defesa aérea do país, além de fortalecimento de medidas antiterrorismo e segurança de informação. A medida começa nesta quarta-feira (28) e durará 30 dias.
Segundo ele, a mudança não inclui restrições a direitos dos cidadãos ucranianos e nem adiar as eleições previstas para o próximo ano. Poroshenko enfrenta uma reeleição difícil em 2019, e críticos levantaram suspeita de que a lei marcial serviria para adiar o pleito.
Os parlamentares ucranianos realizaram um segundo voto para confirmar a realização do pleito em 31 de março.
A Ucrânia reage à ação da patrulha de fronteira da Rússia, que capturou neste domingo (25) dois navios pequenos de guerra e um rebocador ucranianos. Eles vinham do mar Negro e tentavam entrar no mar de Azov pelo estreito de Kertch, território compartilhado entre os dois países que separa a Crimeia da Rússia continental.
Moscou, que acusa as embarcações de terem entrado ilegalmente nas águas territoriais russas da Crimeia anexada, abriu fogo contra os navios e feriu três tripulantes, segundo a agência Interfax. As forças russas detiveram 24 marinheiros ucranianos.
Kiev, por sua vez, diz que as embarcações avisaram que passariam pelo local e acusa a Rússia de agressão militar.
O Ministério de Relações Exteriores da Rússia emitiu nesta segunda-feira um comunicado no qual chama a ação ucraniana de provocação meticulosamente planejada e diz que o país visa a ampliar a tensão na região como pretexto para aumentar as sanções contra a Rússia.
Moscou acusou Kiev de agir em coordenação com os EUA e a União Europeia e convocou o diplomata da Embaixada da Ucrânia em Moscou para dar explicações.
Mais cedo nesta segunda, os Estados Unidos e a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) condenaram o que chamaram de violação da soberania ucraniana e pediram que a Rússia liberte as embarcações e suas tripulações.
O presidente dos EUA, Donald Trump, disse não ter gostado do que aconteceu entre os dois países e que trabalha com líderes europeus para amenizar a situação. Já o secretário de Estado, Mike Pompeo, classificou a ação russa de “perigosa escalada e violação das leis internacionais”.
Em um telefonema a Poroshenko, a chanceler alemã, Angela Merkel, demonstrou preocupação em relação a um confronto armado entre os dois países disse que “fará de tudo” para reduzir a tensão entre os dois lados.
A primeira-ministra britânica, Theresa May, condenou o “ato de agressão” de Moscou e afirmou que o incidente é “mais uma evidência do comportamento desestabilizador da Rússia na região”.
“A posição do Reino Unido é clara, navios devem ter passagem livre até os portos da Ucrânia no mar de Azov”, disse May, pedindo enfaticamente que os dois lados ajam com cautela.
União Europeia, Espanha, França, Polônia, Dinamarca e Canadá também fizeram pedidos pela libertação dos marinheiros ucranianos.
A passagem pelo estreito de Kertch foi reaberta nesta segunda, mas Moscou segue ignorando pedidos pela libertação dos navios.
As tensões no estreito de Kertch aumentaram nas últimas semanas. A Ucrânia deteve um navio de pesca saído da Crimeia em março, e a Rússia retaliou passando a inspecionar todas as embarcações com origem ou destino em portos ucranianos, causando atrasos de dias e atrapalhando o comércio.
A Ucrânia protestou contra o que chamou de bloqueio econômico. No início deste mês, a União Europeia já havia manifestado preocupação com o tema.