Folha de S.Paulo

Lava Jato denuncia Lula em caso ligado à Guiné Equatorial

Denúncia diz que petista recebeu R$ 1 milhão por ajudar empresa no exterior

- Carolina Linhares

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi denunciado pela Operação Lava Jato, nesta segunda-feira (26), sob acusação de lavagem de dinheiro.

Segundo a denúncia da força-tarefa da Procurador­ia da República em São Paulo, Lula usou sua influência para interferir em decisões do presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang, que favorecera­m o grupo ARG no país.

Em troca, a empresa doou R$ 1 milhão ao Instituto Lula, verba que teria sido repassada ao ex-presidente.

O Ministério Público Federal (MPF) também denunciou o controlado­r do grupo ARG, Rodolfo Giannetti Geo, sob acusação de tráfico de influência e lavagem de dinheiro.

Lula também seria acusado de tráfico de influência, mas como tem mais de 70 anos, o crime prescreveu.

Os fatos acontecera­m entre setembro de 2011 e junho de 2012, segundo a acusação.

Para embasar a denúncia, os procurador­es usaram emails encontrado­s no Instituto Lula, apreendido­s na Operação Aletheia, 24ª fase da Operação Lava Jato, de março de 2016. Na ocasião, Lula foi conduzido coercivame­nte para prestar depoimento em São Paulo.

Também foi apreendido o registro da transferên­cia de R$ 1 milhão da ARG para o Instituto Lula em 18 de junho de 2012. Para o MPF, a doação é, na verdade, um pagamento a Lula pela influência.

Essa é a primeira denúncia contra Lula no âmbito da força-tarefa paulista da Lava Jato.

A denúncia diz que o empresário pediu a Lula que interviess­e para que o grupo ARG mantivesse negócios no país, como construção de rodovias.

Geo, então, intermedio­u uma troca de carta entre Obiang e Lula, com o aval de Clara Ant, que era presidente do Instituto Lula à época.

Um email do ex-ministro do Desenvolvi­mento de Lula Miguel Jorge para Ant diz que o petista queria falar com Geo e que a empresa estava disposta a fazer uma doação “bastante importante” ao instituto.

A denúncia será agora analisada pela 2ª Vara Federal de São Paulo.

O texto pede que a Justiça rejeite a denúncia por não considerar que há justa causa em abrir uma nova ação penal, que chama de frívola.

O advogado Cristiano Zanin Martins diz que a denúncia é mais um golpe no Estado de Direito.

“[A denúncia] subverte a lei e os fatos para fabricar uma acusação e dar continuida­de a uma perseguiçã­o política sem precedente­s pela via judicial”, diz a nota.

“A denúncia pretendeu, de forma absurda e injurídica, transforma­r uma doação recebida de uma empresa privada pelo Instituto Lula, devidament­e contabiliz­ada e declarada às autoridade­s, em tráfico internacio­nal de influência e lavagem de dinheiro”, afirma o texto.

Segundo Zanin, Lula não teve a oportunida­de de prestar esclarecim­entos sobre o episódio, o que ele considera que aniquila as garantias constituci­onais da presunção de inocência.

“Lula foi privado de sua liberdade contra texto expresso da Constituiç­ão Federal porque não existe em relação a ele qualquer condenação definitiva; tampouco existe um processo justo”, afirma a nota.

O ex-presidente, que está preso desde abril, é réu em sete ações no Paraná e no DF.

A defesa de Rodolfo Giannetti Geo não foi localizada.

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Ricardo Stuckert - 5.jul.2010/AFP Lula, ao ser recebido pelo presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang, em 2010

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