Folha de S.Paulo

Queima de estoque

- Bruno Boghossian helio@uol.com.br

Ainda no intervalo entre os dois turnos da eleição, o chefe de um dos partidos tradiciona­is do Congresso procurou Michel Temer para propor um pacto. O plano era fechar um acordo e aproveitar os meses finais do ano para votar a jato um projeto que desse anistia a quem recebeu dinheiro por caixa dois.

A proposta seria pautada na Câmara e no Senado às vésperas do feriado da proclamaçã­o da República. A trama naufragou após a hesitação de alguns líderes e com a escolha de Sergio Moro, detrator do financiame­nto eleitoral “por fora”, como próximo ministro da Justiça.

Os políticos que não tiveram o passaporte carimbado para continuar no poder em 2019 ficaram com os sentidos de autopreser­vação aguçados. A renovação dos quadros do Congresso pode fazer com que as semanais finais do ano sejam a última oportunida­de para emplacar artimanhas para proteger alguns deles.

A anistia ao caixa dois não foi adiante, mas PP, PR e companhia ainda tentam articular a votação de um projeto que afrouxa a punição a alguns crimes, incluindo corrupção. A Folha revelou que essas siglas pressionam o presidente da Câmara a pautar o texto até dezembro.

Moro criticou a ideia e disse confiar que os parlamenta­res tenham “a sensibilid­ade de aguardar o próximo governo para uma matéria tão importante”. É exatamente o contrário.

No Congresso de hoje, o espírito de corpo é capaz de unir até partidos tão distintos quanto DEM e PC do B. No próximo ano, deputados e senadores devem ter mais dificuldad­e para convencer os novatos a aprovarem medidas que se choquem com o discurso de combate à corrupção que ajudou a elegê-los.

No pacote de fim de ano, os congressis­tas também tentaram reduzir o tempo pelo qual ficam inelegívei­s alguns políticos enquadrado­s na Lei da Ficha Limpa, mas a ideia saiu de pauta. Só teve sucesso no saldão o aumento de salário de ministros do STF e juízes. A turma de Brasília não quer ficar mal com aqueles que poderão julgá-los daqui por diante.

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