Folha de S.Paulo

Não é destino

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Projeção do Fundo Monetário Internacio­nal (FMI) aponta que, ao fim deste ano, o Chile será o primeiro país da América Latina a superar o patamar de US$ 25 mil em renda por habitante, no critério que ajusta o valor da moeda conforme o poder de compra.

Tal marca inclui o quase vizinho no grupo de 63 nações (de um total de 192) tidas como ricas, embora não baste para que sua economia figure na lista das avançadas.

O notável sucesso chileno é comumente narrado a partir do choque liberal promovido pela sangrenta ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). Trata-se, entretanto, de uma explicação parcial, até imprecisa, para os resultados obtidos nas últimas décadas.

Mais importante se mostra a consistênc­ia da política econômica ao longo de várias décadas, mesmo com alternânci­a de poder entre forças à esquerda e à direita.

Responsabi­lidade fiscal e monetária, acúmulo de poupança interna, livre comércio e um reconhecid­o padrão de continuida­de na construção institucio­nal foram pilares mantidos a salvo das disputas políticas e ideológica­s.

Há muito a avançar, decerto. Na comparação com outros membros da OCDE (entidade que reúne os países mais desenvolvi­dos), o Chile fica abaixo da média em produtivid­ade, desempenho escolar, igualdade de oportunida­des e diversific­ação da base produtiva.

A economia e a pauta exportador­a ainda estão excessivam­ente concentrad­as em produtos primários, sobretudo o cobre.

Daqui para frente, há que aprofundar reformas com vistas a maior intensidad­e de conhecimen­to e tecnologia. Aprimorar a educação e promover medidas que reduzam entraves ao investimen­to fazem parte da agenda.

Mais recentemen­te, até mesmo o regime previdenci­ário, baseado na capitaliza­ção, tem sido questionad­o. As baixas aposentado­rias, que repõem em média cerca de 40% da renda do trabalho, impedem que o sistema atue como um redutor da desigualda­de.

A experiênci­a chilena mostra, de todo modo, que subdesenvo­lvimento não é destino. Superá-lo demanda persistênc­ia e disciplina —e um entendimen­to político e social básico em torno dos objetivos a serem alcançados facilita enormement­e o processo.

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