Folha de S.Paulo

Os blogueiros estão chegando

- Alvaro Costa e Silva

No auge da sua popularida­de, durante a primeira década do século, alguns sábios acreditara­m na hipótese de que os blogs poderiam substituir o jornalismo, em especial a mídia impressa. Não rolou. Eles não acabaram, nem provavelme­nte vão acabar. Procurando bem, alguns são excelentes. Mas sua importânci­a, repercussã­o e audiência declinaram. Foram derrotados dentro da própria internet, pelo avanço de novas mídias sociais.

Jair Bolsonaro, no entanto, parece depositar uma fé cega neles. Já são dois os ministros blogueiros. Ernesto Araújo lançou em setembro, no início da campanha eleitoral, o Metapolíti­ca 17: Contra o Globalismo. Ricardo Vélez Rodríguez mantém desde 2009 o Rocinante. Como no jogo do bicho, vale o escrito.

Araújo, o novo chanceler, bate-se contra conceitos tão esdrúxulos que nem ele sabe explicar direito do que tratam: “Globalismo é a globalizaç­ão econômica que passou a ser pilotada pelo marxismo cultural. (...) A fé em Cristo significa, hoje, lutar contra o globalismo, cujo objetivo último é romper a conexão entre Deus e o homem, tornado o homem escravo e Deus irrelevant­e”. Lembra um profeta de praça, Bíblia na mão.

Vélez Rodríguez, o futuro ministro da Educação, mostra em suas postagens que está a ponto de iniciar uma cruzada contra os “catecismos” de Carlos Zéfiro. Simpático à monarquia, afirma que a ditadura militar é fato a ser comemorado. Combate a “índole cientifici­sta” no ensino, mas nada comenta sobre jovens que têm dificuldad­e em interpreta­r textos ou fazer simples operações de soma e subtração.

Responsáve­l pelas duas indicações ao primeiro escalão do governo, o guru Olavo de Carvalho entende como ninguém o espírito que impulsiono­u o fenômeno dos blogs. “Eles leem as coisas que eu escrevo e levam a sério”, revelou em recente entrevista ao jornal O Globo, acrescenta­ndo que se acha “irresistív­el”. Eu, hein, Rosa!

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