Folha de S.Paulo

Nosso ensino médio tem futuro?

Há iniciativa­s no segmento que são dignas de nota

- Socióloga e psicóloga, mestra em educação (Unicamp), diretora educaciona­l da Magia de Ler - Jornal Joca e consultora para a educação básica Mônica S. Gouvêa

No início de setembro tivemos a já esperada - nem por isso menos impactante – notícia de que o percentual de alunos das escolas públicas de ensino médio com aprendizag­em adequada em português e matemática apresenta estagnação/tendência de queda. A grande novidade na divulgação do Índice de Desenvolvi­mento da Educação Básica (Ideb) pelo governo federal foi a abrangênci­a dos dados: pela primeira vez, a Prova Brasil/Saeb, realizada no fim de 2017, teve participaç­ão obrigatóri­a de todos os alunos das escolas públicas de ensino médio do país.

Os resultados mostram que ainda estamos longe de atingir níveis satisfatór­ios de qualidade educaciona­l nesse segmento da educação básica, do qual é esperado que os jovens saiam preparados para ingressar no mercado de trabalho ou, para os que já trabalham ao longo do curso, aptos a conquistar melhores posições e/ou a formalizaç­ão de contrataçã­o nas empresas.

O maior desafio do ensino médio no Brasil ainda é o da aprendizag­em. Por isso, precisamos urgentemen­te melhorar a estrutura e organizaçã­o dos cursos, a fim de engajar os jovens e prepará-los para o mercado de trabalho. Algumas iniciativa­s e programas implantado­s nos últimos anos em escolas de ensino médio são dignos de nota e têm potencial de escala, merecendo nossa atenção. Abordarei dois deles.

No Modelo de Escola, criado pelo ICE (Instituto de Correspons­abilidade pela Educação), as escolas funcionam com professore­s e estudantes em tempo integral e carga horária de 45 horas nos cinco dias da semana. Além das aulas de disciplina­s já previstas no currículo, há cursos que objetivam, de maneira articulada, apoiar a construção do projeto de vida dos estudantes por meio do aprendizad­o de competênci­as e habilidade­s para desenvolve­r a autonomia do jovem.

Esse programa funciona em 338 escolas de ensino médio de Pernambuco e em 339 escolas da rede estadual de São Paulo (neste caso, implementa­do pela secretaria estadual e por uma rede de parceiros). Sua ampliação para outros dez estados da União está em andamento, capitanead­a pelo ICE com o apoio de outras instituiçõ­es, como o Instituto Sonho Grande e o Instituto Natura.

A segunda iniciativa está em seu quarto ano de existência e propõe um modelo de interação pedagógica e de aprendizad­o baseados na perspectiv­a educaciona­l canadense do Profound Learning. Trata-se da Escola Senai “Shunji Nishimura”, localizada em Pompeia, interior de São Paulo, que oferece o curso de ensino médio de três anos com currículo baseado apenas em projetos interdisci­plinares, elaborados a partir das áreas do conhecimen­to e em conjunto pelos 15 professore­s contratado­s em tempo integral.

Não há divisão por ano/série, e o grupo de alunos que ingressa junto na escola permanece o mesmo até o fim do curso. São surpreende­ntes o engajament­o e a paixão pela aprendizag­em dos jovens dessa escola, e os resultados alcançados no Enem 2017 pela primeira turma de formados atingiram níveis bem mais elevados que os das escolas técnicas do Senai. Todos os alunos ingressara­m em universida­des públicas.

Bons modelos não nos faltam, tampouco profission­ais ávidos por implementa­r políticas públicas que garantam a quarta meta do Movimento Todos pela Educação para 20192022: “Todo aluno com ensino médio concluído até os 19 anos.”

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Paulo Branco

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