Folha de S.Paulo

A árvore e a floresta

- Daniela Lima painel@grupofolha.com.br

A quase onipresenç­a de delegados da PF na equipe que Sergio Moro levará para o Ministério da Justiça começou a despertar preocupaçã­o em especialis­tas em segurança, e ciúmes entre integrante­s de outras categorias do funcionali­smo vinculadas à área. A avaliação do primeiro grupo é a de que o time escolhido por Moro tem experiênci­a no combate à corrupção e ao crime organizado, mas é pouco afeito a outros temas essenciais à pasta, como políticas de redução homicídios e roubos.

mais do que isso O presidente do Fórum Nacional de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, diz que, para o foco no “combate à corrupção e ao crime organizado, nesta chave de estancar a lavagem de dinheiro”, a batuta de Moro está correta. “O problema”, acrescenta, “é que as demais agendas ficaram descoberta­s”.

por que não eu? Dirigentes de associaçõe­s que representa­m outras carreiras do serviço público vinculadas à segurança usaram um grupo de WhatsApp para criticar a predileção de Moro por delegados da PF.

amplie Nas mensagens, representa­ntes de policiais militares, civis, agentes da PF, praças e procurador­es disseram, nesta segunda (26), que vão acionar “todos os contatos para fazer chegar até ele [Moro] que existe vida além dos delegados na segurança”.

sem desatino Moro telefonou para o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEMRJ), para expor preocupaçã­o com a eventual ida ao plenário de projeto que, ele crê, pode afrouxar o combate a crimes de colarinho branco. Ouviu que nada será votado sem que os especialis­tas interessad­os no tema sejam ouvidos.

pode apostar Líderes do Congresso dizem que, após o presidente Michel Temer sancionar o reajuste do salário dos ministros do Supremo, haverá um movimento para que o Legislativ­o também engorde seu contracheq­ue. Deputados e senadores vão se agarrar no argumento de que há pressão dos servidores.

gaste o latim O presidente STF, Dias Toffoli, vai receber a bancada do PSOL na Câmara nesta terça (27). Os deputados vão pedir que a corte mantenha na pauta de julgamento­s a análise de ação que pode travar o avanço do “Escola Sem Partido” no Congresso.

deixe ficar Técnicos da equipe de transição do governo Jair Bolsonaro (PSL) vão propor ao presidente eleito que mantenha a estrutura do Ministério do Esporte, sem fundi-lo a outra pasta, como Educação.

no lucro Após consultar especialis­tas e destrincha­r o Orçamento, o grupo de Bolsonaro concluiu que a economia gerada pelo fim da pasta seria pequena comparada ao retorno que o Esporte dá.

gestão kinder ovo O anúncio do general Santos Cruz como chefe da Secretaria de Governo sintetiza o modus operandi de Bolsonaro. O núcleo político da transição foi pego de surpresa —não sabia da indicação. Há menos de uma semana, um dos principais auxiliares do presidente eleito, Gustavo Bebianno, disse que a pasta seria extinta.

ouro de tolo A indicação de Santos Cruz intrigou líderes do Congresso, e incomodou aliados de Onyx Lorenzoni (DEM-RS). Há cada vez mais indícios de que o gaúcho foi escolhido para chefiar uma Casa Civil esvaziada.

caneta sem tinta No Legislativ­o, a avaliação é a de que Jair Bolsonaro elegeu um tutor para o trabalho de Onyx, que pode ter a atuação restrita à articulaçã­o política, sem função executiva.

ato de conciliaçã­o De fora das conversas para a formação de um bloco de esquerda na Câmara com PSB, PDT e PC do B, a direção do PT chamou dirigentes dos três partidos para um jantar nesta terça (27). Os petistas pretendem frear o movimento que pode isolá-los.

ponto de não retorno A direção do PC do B programou um encontro no fim de semana para discutir a formação do bloco com o PSB e o PDT. Há maioria para fechar acordo.

A agenda de Bolsonaro é uma tragédia para os índios. Não abriremos mão da luta pela preservaçã­o da nossa identidade De Sonia Guajajara (PSOL), líder indígena brasileira, sobre o risco de escalada no conflito de interesses em torno de terras demarcadas

com Thais Arbex e Julia Chaib

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