Militar diz que não terá ‘preconceito político’
General Santos Cruz afirma que vai dialogar com todos os grupos no Congresso e que falta de experiência não o prejudica
Sem trajetória na vida política, o futuro ministro da Secretaria de Governo, general Carlos Alberto dos Santos Cruz, não acredita que terá dificuldades em negociar com o Poder Legislativo pelo fato de nunca ter exercido mandato parlamentar.
Para ele, a função não é nem uma “assombração” nem “inexequível”, mas apenas um “grande desafio”. “A minha experiência de vida me garante qualquer função desse nível. Você não precisa ser tão especializado”, disse.
Em sua primeira entrevista desde que foi anunciado para o cargo, na manhã desta segunda-feira (26), o general disse à Folha que pretende assumir a função sem “preconceito político” ou “paixões partidárias”.
“Eu vou conversar com todo mundo. Todo mundo foi eleito, tem valor e é igual. Dar atenção é uma obrigação”, disse o militar, que não descartou receber até mesmo políticos filiados ao PT, principal alvo do presidente eleito Jair Bolsonaro durante a campanha eleitoral.
Antes do anúncio do general, o posto responsável pela interlocução entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional, criado em 2015, era exercido por políticos com passagem pelo Poder Legislativo, justamente pela experiência no diálogo com bancadas parlamentares.
“A função é de atenção e de interlocução com deputados e senadores, facilitando a comunicação entre o presidente e congressistas. Isso não tem problema nenhum. Eu nunca fui parlamentar, mas não vejo dificuldades nisso”, disse o militar.
Para ele, que concedeu a entrevista por telefone durante viagem a Bangladesh, o fato de ser militar não diferencia sua atuação a de seus antecessores. “Não vejo diferenciação para comparar com os outros, mas pode ter certeza que o forte será a atenção e a educação”, disse.
Ele refuta a comparação com o general Marine John Kelly, chefe de staff de Donald Trump, escalado pelo norteamericano para acabar com improvisações e intrigas na Casa Branca.
“Não, acho que não, não tem amadorismo. Eu não vejo essa semelhança, porque a função vem ocorrendo normalmente. É a vida da política”, disse.
A avaliação de aliados do presidente eleito é de que ele escolheu o militar em esforço para blindar negociações com o Congresso Nacional que envolvam emendas parlamentares e cargos de segundo e terceiro escalões.
Para eles, diante de um general, deputados e senadores podem se sentir menos confortáveis do que em conversas com políticos para negociar recursos e posições.
A escolha de um general para um cargo de interlocução política foi avaliada como arriscada por congressistas ouvidos pela Folha. Na avaliação deles, a Secretaria de Governo exige um perfil moderado e diplomático.
“O presidente me conhece, sabe das minhas características, principalmente de que daremos o máximo de atenção possível a todos aqueles que precisarem da Secretaria de Governo”, disse o militar.
Ele informou que retornará
4 ministros já anunciados são militares (Defesa, Secretaria de Governo, Ciência e Tecnologia e GSI). O vice, general Mourão, também deve ter funções de destaque no governo
14 ministros já foram anunciados por Jair Bolsonaro, além do presidente do Banco Central
ao Brasil na sexta-feira (30) para tratar de sua nova posição com o presidente eleito. O militar relatou que foi convidado anteriormente pelo futuro ministro da Justiça, Sergio Moro, para comandar a Secretaria Nacional de Segurança Pública.
“Eu tinha sido realmente convidado, mas o presidente eleito, na acomodação das funções, me convidou para essa outra função e, claro, ele tem prioridade”, disse. “Mas seria uma honra trabalhar com Moro. É uma pessoa que está fazendo um fantástico trabalho, com coragem e perseverança. Nessa hora, é normal a acomodação de funções”, acrescentou.
O general afirmou ainda que não conversou com o presidente se manterá a mesma postura adotada por ele até o momento de priorizar a negociação com frentes parlamentares em vez de partidos políticos. O comportamento tem sido criticado no Congresso Nacional. Bolsonaro, porém, já afirmou que prefere “pessoas independentes”, que “não pensem em agremiação partidária”.
“Esse tipo de interlocução segue o ritmo determinado pelo presidente. E o presidente, desde que eu o conheço, tem um perfeito entendimento e não é uma pessoa radical”, disse o general.
Santos Cruz evitou fazer previsões sobre a votação da reforma previdenciária. Para ele, é necessário ainda esperar o “andamento congressual”.
“A Previdência é um dos assuntos polêmicos e tudo é possível. Esse tipo de tema, sensível para a população, depende do andamento congressual”, disse.
No governo de Michel Temer, a secretaria foi ocupada por três ministros ligados ao Congresso: Geddel Vieira Lima (MDB), Antonio Imbassahy (PSDB) e o atual, Carlos Marun (MDB).