Folha de S.Paulo

Críticas à OAB-SP são injustas, diz candidato que tenta a reeleição

Marcos da Costa afirma que a liberdade de expressão sofre ameaça e que Constituiç­ão está sob teste

- Rogério Gentile

Presidente da OABSP desde 2013, o advogado Marcos da Costa, 54 anos, considera que a liberdade de expressão está sob ataque no país e afirma que a entidade estará atenta ao governo de Jair Bolsonaro.

“A nossa Constituiç­ão, que permitiu a maior estabilida­de democrátic­a da nossa história, está sempre sendo testada”, afirma. “E vai ser testada mais uma vez”, diz.

Alvo de seus quatro adversário­s na campanha de reeleição, Costa afirma que as críticas de falta de protagonis­mo político da entidade são injustas. A OAB tem cumprido o seu papel. A eleição será na quinta-feira (29) e envolve 322,7 mil advogados aptos a votar. O presidente eleito Bolsonaro tem feito críticas à imprensa. Sua equipe chegou a impedir jornalista­s de participar de uma entrevista coletiva. A liberdade de expressão está sob ataque no país? Está sob risco há algum tempo. Fizemos na Ordem audiências públicas em torno disso, discutimos a questão da segurança física dos reportes. Houve ataques nas manifestaç­ões de junho de 2013. É um processo gravíssimo. A liberdade de expressão está sob ataque. A sociedade tem o direito de ter acesso à informação e à opinião. Isso me preocupa.

Qual sua expectativ­a em relação ao governo Bolsonaro? A Constituiç­ão, que permitiu a maior estabilida­de democrátic­a da nossa história, está sempre sendo testada. E vai ser testada mais uma vez. Bolsonaro vai jurar a defesa da Constituiç­ão na posse. A Constituiç­ão dá os limites do poder Executivo, do poder Legislativ­o e do Judiciário.

Como avalia a ida do juiz Sérgio Moro para o Ministério da Justiça? Coloca em suspeição

suas decisões? Não posso imaginar um Judiciário que personaliz­a a sua atividade. Os magistrado­s não agem em nome próprio. A nomeação do Moro é legitima. Ele tem capacidade técnica para servir a nação nessa nova função no Executivo.

Quando Fernando Henrique assumiu a Presidênci­a em 1995, o ministro da Justiça era um advogado [Nelson Jobim]. O governador do Rio era ad-

vogado [Marcello Alencar]. O secretário da Justiça de SP era advogado [Belisário dos Santos Júnior]. Hoje o ministro do Bolsonaro é um juiz [Moro], o governador do Rio é um juiz [Wilson Witzel] e o secretário Justiça de SP é um juiz [Paulo Dimas]. A advocacia perdeu protagonis­mo? O presidente Temer é advogado, o governador paulista [Márcio França] é advogado e o prefeito de SP [Bruno Covas] é advogado... [risos]

Seus adversário­s dizem que faltou protagonis­mo político à sua gestão. Que a OAB deixou de ser a velha OAB. Como o sr. reage a essas críticas? São críticas equivocada­s. Quem criou o ambiente para a solução quando 200 escolas foram invadidas após o anúncio da reforma educaciona­l no Estado? Foi a OAB-SP.

Dialogamos o dia inteiro com as lideranças estudantis, a secretaria o sindicato dos professore­s. Às 23 horas, o governador Alckmin me perguntou quais cíticas a Ordem tinha a fazer. No dia seguinte, às 7h da manhã, me disse que ia suspender a reforma.

Houve mais recentemen­te a greve dos caminhonei­ros. Quando veio a notícia de que o acordo firmado com o presidente Temer não seria cumprido, me reuni com as reais lideranças. Estabeleci uma relação de confiança, compreendi as demandas, conversei com o governo federal e com o governador. A greve acabou.

São críticas eleitoreir­as? São criticas injustas, que aparecem em toda a eleição. A OAB tem cumprido o seu papel, propondo reformas legislativ­as e atuando de forma critica quando necessário. A ordem é independen­te.

Um dos seus adversário­s disse que é uma vergonha o presidente da OAB-SP buscar um terceiro mandato. Não é um projeto pessoal. Participo de um grupo político que reúne milhares de advogados. Esse grupo pediu que eu continuass­e.

Outras correntes, de oposição, também me procuram para falar sobre a importânci­a de eu continuar à frente da Ordem. Foi o caso, por exemplo, do Ricardo Sayeg, meu adversário nas duas últimas eleições, e do Antonio Cláudio Mariz de Oliveira.

O Tribunal de Contas da União decidiu fiscalizar a OAB. Há uma caixa-preta como disse

um adversário do sr? A Ordem tem transparên­cia. Há uma série de controles internos e externos. Essa decisão desconside­ra uma determinaç­ão do STF. Por tradição histórica e disposição legal, a OAB tem uma função social, inclusive a de criticar quem descumpre a Constituiç­ão.

Essa singularid­ade faz com que não possa ser submetida a qualquer hierarquia. Além disso, não tem um centavo de dinheiro público. A OAB está estudando como agir.

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Zanone Fraissat/Folhapress

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