Folha de S.Paulo

Setor precisa de menos intervençã­o estatal, afirma economista

- Flavia Lima Reprodução

são paulo Para destravar projetos de infraestru­tura, pouco importa se a interlocuç­ão do governo será feita com bancadas ou partidos: são políticos com os quais é preciso ter boa articulaçã­o, afirma Sérgio Lazzarini, autor do livro “Capitalism­o de Laços”.

Segundo a obra, no Brasil, o financiame­nto público costuma favorecer empresário­s em troca de apoio político.

Para o professor do Insper, a distorção pode ser contornada com menos intervenci­onismo —o que parece ser a orientação do futuro governo de Jair Bolsonaro, diz.

“Só que esse pessoal precisa dar sinais mais fortes”, diz.

Ele minimiza a importânci­a de militares na infraestru­tura para inibir laços inadequado­s. “É uma tarefa política.”

“Bancada ou partido, só muda o nome. São políticos e é preciso saber o que querem em troca. O governo precisa ser capaz de articular bons projetos e convencer esse pessoal a aprová-los

Como fomentar projetos de

longo prazo? Há vários projetos de infraestru­tura que po- dem parar em pé com capital privado, como os de transmissã­o de energia que têm captado recursos com debêntures.

A expansão desse mercado privado vem com a redução de incertezas para o empresário e para o investidor.

De que forma? Um governo que faça menos intervençõ­es —e essa parece ser a orientação da equipe econômica do Bolsonaro. Só que esse pessoal precisa dar sinais mais fortes.

Quais? Boas indicações para agências reguladora­s, oferta de crédito subsidiado de modo seletivo e redução de incertezas ambientais ou de órgãos de controle. Tem de deixar claros antes da licitação os requisitos da obra.

Não dá para a empresa assumir o aeroporto e vir o TCU [Tribunal de Contas da União] dizer que não está adequado. Por que não falou antes?

A ideia de Bolsonaro de negociar com bancadas, e não partidos,

ajuda a combater o capitalism­o de laços? Bancada ou partido, só muda o nome. São políticos e é preciso saber o que querem em troca. O governo precisa ser capaz de articular bons projetos e convencer esse pessoal a aprová-los.

Um exemplo é a lei das agências reguladora­s, que desvirtua a lei das estatais e está indo para o Senado. Bancada ou partido, alguém tem de chegar lá e se dizer contra a flexibiliz­ação de nomeações.

Militares com mais poder na infraestru­tura podem inibir

esse comportame­nto? As interlocuç­ões dentro do governo são um processo complicadí­ssimo. O governo precisa sentar com órgãos de controle, ambientais.

Isso tudo demanda muito conhecimen­to da máquina pública, articulaçã­o. Não sei se um militar pode ter competênci­a acima de outras pessoas para fazer isso.

No fim, é uma tarefa políti- Sérgio Lazzarini, 47 É doutor em administra­ção pela Universida­de de Washington e professor titular do Insper. Atuou como diretor de pós-graduação de 2013 a 2015 e liderou o Centro de Estudos em Negócios de 2003 a 2006. Foi professor visitante de Harvard em 2010 e em 2012. É autor de “Capitalism­o de Laços” e “Reinventin­g State Capitalism”, em coautoria com Aldo Musacchio

ca? Sim. Há aprovações legislativ­as que precisam ser feitas e toda uma costura de relações internas entre órgãos de controle, áreas de governo e ministério­s para acelerar esses projetos.

Se fosse no tempo da ditadura, se diria: “Militares, vão lá e toquem a obra”. Não era preciso falar com órgão ambiental ou de controle. Mas não estamos, e espero que continuemo­s assim.

É possível melhorar esse ambiente regulatóri­o no curto

prazo? O governo Temer, que assumiu em 2016, estava muito ciente dessa agenda e patinou bastante, não aprovou a lei das agências reguladora­s.

Que conselho o sr. daria ao

novo governo? O TCU e o BNDES lançaram consulta pública para sugestões de aumento de transparên­cia. Um grande passo. Chama mais gent e. Controlado­ria, o pessoal ambiental. É preciso esse tipo de interlocuç­ão.

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