Folha de S.Paulo

Dólar fecha acima de R$ 3,90 pela primeira vez em 2 meses

Pessimismo global e remessas ao exterior elevam moeda americana; Bolsa cai

- Tássia Kastner

Contagiado pelo pessimismo do cenário externo, o dólar disparou mais de 2% nesta segunda-feira (26) e fechou acima dos R$ 3,90 pela primeira vez em quase dois meses. A Bolsa brasileira se descolou do exterior e fechou em queda.

A alta da moeda americana se deu sobre as principais divisas emergentes, em um movimento de aversão a risco global de investidor­es.

O ciclo se iniciou com a queda expressiva do preço do barril do petróleo, que na sexta-feira (23) ficou abaixo dos US$ 60, e agora foi seguido pelo minério de ferro.

Nesta segunda, o barril voltou a fechar acima dos US$ 60. O minério negociado na China recuou mais de 4%. Em uma semana, o minério perdeu cerca de 10% do valor e seguiu a baixa de mais de 30% nos preços do petróleo desde a máxima do começo de outubro.

Na prática, as matérias-primas sofrem com receio de menor demanda causada pela guerra comercial entre Estados Unidos e China, que poderia desacelera­r a economia global.

Há ainda um movimento típico de fim de ano, em que empresas multinacio­nais com operação no Brasil enviam recursos para matrizes para o fechamento de balanço anual e pagamento de dividendos. Essa saída de recursos tradiciona­lmente faz o dólar se valorizar em dezembro.

“Em uma visão de curtíssimo prazo, [as causas da alta do dólar são] essa queda forte nos preços do minério e remessas para o exterior”, diz Rodolfo Margato, economis- ta do Santander.

“Vejo [a alta do dólar] como movimento global. Não era esperada a queda de commoditie­s, como petróleo e minério de ferro. Nossas exportaçõe­s são baseadas em commoditie­s”, afirma Fabrizio Velloni, da Frente Corretora.

Fernanda Consorte, da Ouroinvest, considera ainda que a alta é um reflexo da saída de investidor­es estrangeir­os do mercado local durante todo o mês.

“Não tem gringo interessad­o em Brasil porque as pessoas estão com medo de países emergentes. A gente estava muito inebriado com a questão local e concomitan­temente a isso a expectativ­a global foi piorando”, diz Consorte.

A mínima recente do dólar foi registrada no período que marcou a confirmaçã­o da eleição de Jair Bolsonaro (PSL).

Desde então, no entanto, a moeda entrou em trajetória de alta, contrarian­do as expectativ­as do mercado financeiro, que previa a moeda abaixo do nível de R$ 3,70, olhando apenas para o cenário doméstico.

O dólar fechou a segunda em alta de 2,48%, a R$ 3,9180. Comparado a uma cesta de 24 divisas emergentes, o real foi a segunda que mais perdeu valor, atrás do peso argentino.

Já a Bolsa brasileira destoou do exterior e fechou em queda. Operadores do mercado financeiro não sabiam explicar o motivo para o mercado local ter se descolado.

O Ibovespa, principal índice acionário do país, caiu 0,79%, a 85.546 pontos. O giro financeiro foi de R$ 18,1 bilhões.

As perdas foram lideradas pelos papéis do setor bancário. Vale e as ações preferenci­ais da Petrobras também terminaram o dia no negativo.

No exterior, as principais Bolsas americanas e europeias subiram ao redor de 1,5%.

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