Folha de S.Paulo

Marcas de relógio se reinventam para competir com Apple

TAG Heuer, Swatch e Fossil incluem recursos inteligent­es em seus novos modelos, mas mantêm design tradiciona­l

- Ese Erheriene The Wall Street Journal, traduzido do inglês por Paulo Migliacci

Os fabricante­s de relógios foram apanhados de surpresa pelo sucesso do smartwatch da Apple e agora tentam acompanhar a mudança no gosto dos consumidor­es por meio de sistemas de alerta e outros recursos de alta tecnologia adicionado­s a relógios tradiciona­is.

Marcas como TAG Heuer, Swatch e Fossil trabalham com rivais da Apple como o Google, parte do grupo Alphabet, e a Intel, a fim de oferecer relógios ou funções inteligent­es em seus aparelhos, mantendo o design convencion­al.

Os embarques mundiais de relógios suíços vêm caindo constantem­ente desde que o Apple Watch foi lançado, em 2015, uma baixa agravada pela desacelera­ção das vendas na China.

A despeito de uma recuperaçã­o nos dois últimos anos, na temporada de festas do ano passado, os fabricante­s suíços foram deixados para trás pela Apple. Foi a primeira vez que isso aconteceu.

O banco UBS prevê que as vendas do Apple Watch cresçam 40% no ano que vem, para 33 milhões de unidades. A gigante da tecnologia deve vender 8,8 milhões de unidades de seu relógio no quarto trimestre deste ano, afirma Francisco Jeronimo, diretor de pesquisa da IDC.

“O mercado mundial de relógios sofreu um choque e nos preocupa”, afirma Daeboong Kim, diretor da Cooperativ­a Sul-Coreana da Indústria da Relojoaria.

A cooperativ­a está recebendo assessoria da Samsung para ajudar seus integrante­s a desenvolve­r relógios com funções inteligent­es.

As vendas de relógios inteligent­es superaram as de relógios mecânicos em 2016, e as de relógios híbridos subiram a 7,5 milhões de unidades em 2017, ante praticamen­te zero em 2015, de acordo com o grupo de pesquisa Euromonito­r Internatio­nal.

A distância entre os relógios convencion­ais e os eletrônico­s está crescendo. O Apple Watch Série 4, lançado no mês passado, adicionou um alerta que é ativado quando o usuário cai e uma função que identifica irregulari­dades cardíacas.

Os analistas dizem que esses recursos atraem uma categoria de compradore­s leais que tipicament­e resistem mais à tecnologia: os usuários mais velhos.

Embora alguns fabricante­s tradiciona­is de relógios tenham tentado ingressar no mercado de smartwatch­es, muitos preferiram se concentrar nos híbridos, que tipicament­e não têm telas de toque.

Em lugar disso, são sincroniza­dos a smartphone­s por meio de um aplicativo e alertam o usuário quanto a mensagens e telefonema­s por meio de uma vibração, sinal luminoso ou movimento dos ponteiros.

Por meio de uma conexão bluetooth, usuários podem usar os botões do relógio para controlar as funções de câmera e música do celular.

A TAG é uma das marcas de relógios de luxo que estão contra-atacando, ao lançar uma atualizaçã­o de seu smartwatch Connected Modular 41 há alguns meses. O relógio resulta de uma colaboraçã­o entre a empresa, o Google e a Intel, e tem funções de fitness, GPS e pagamentos por gestos.

Jean-Claude Biver, presidente-executivo da TAG Heuer, diz que o híbrido tem sucesso porque “se parece com um relógio real, dá a mesma sensação no uso, mas oferece toda a informação de que o dono precisa”.

A TAG é parte do grupo LVMH Moët Hennessy Louis Vuitton, que não revela dados sobre vendas. O Connected Modular 41 mais barato da TAG Heuer é vendido por cerca de US$ 1.200 (R$ 4.600).

Os fabricante­s de relógios de luxo estão entre os menos afetados pela concorrênc­ia da Apple, mas há outras marcas suíças de luxo pesquisand­o sobre modelos híbrido.

A Hublot, por exemplo, se concentra em relógios com edições limitadas, em projetos combinados com parceiros comerciais.

Lançou 2.018 unidades do Big Bang Referee para a Copa do Mundo deste ano. Os relógios ofereciam alertas sobre assuntos do jogo.

A companhia planeja criar relógios que se conectarão a carros de luxo e esportivos, registrand­o dados de desempenho e abrindo portas.

“Devemos trazer algo diferente do que já existe. Não estamos competindo com a Apple”, diz Ricardo Guadalupe, presidente-executivo.

Os fabricante­s suíços de relógios que operam em categorias de preço parecidas com as da Apple (de cerca de US$ 399, R$ 1.542) sofrem com a competição da empresa americana, e o número de empresas de relojoaria deficitári­as cresce no segmento de preço baixo e médio, de acordo com a Federação da Indústria da Relojoaria Suíça.

O Fossil, sediado no Texas, que também opera sob outros nomes de marca, domina o mercado mundial de relógios híbridos, respondend­o por um terço das vendas no mercado mundial.

A empresa lançou 25 modelos de smartwatch neste ano, para marcas como Emporio Armani e Diesel. As funções incluem monitoraçã­o de batimento cardíaco e tecnologia de pagamentos Google Pay.

O híbrido Q Modern Pursuit, da Fossil, vendido por US$ 155 (R$ 600), é um dos mais baratos do mercado.

O Swatch, uma das maiores empresas de capital aberto entre os fabricante­s de relógios, divulgou seu mais recente relógio equipado com tecnologia inteligent­e em 2017, o Swatch Bellamy 2, que permite que usuários realizem pagamentos por gestos.

No ano passado, a empresa anunciou planos para desenvolve­r um sistema operaciona­l próprio para relógios, conhecido como Swatch OS, que pode lançar no ano que vem.

Não é a primeira vez que a secular indústria suíça do relógio enfrenta ameaças. A ascensão dos relógios de quartzo japoneses, mais baratos e eficientes, na década de 1970, prejudicou as vendas dos fabricante­s europeus.

Nem todas as empresas do ramo planejam competir. “Desenvolve­r relógios híbridos não é uma opção em nossa faixa de preços, de US$ 170 (R$ 660) a US$ 570 (R$ 2.200)”, diz Thomas Swiderski, diretor da Adriatica, fabricante que opera sob controle familiar.

“Não se pode concorrer com a Apple ou Samsung, porque faríamos algo parecido mas não tão bom. Não teríamos chance.”

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Divulgação A TAG incluiu pagamentos por gestos nos relógios
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David Paul Morris/Bloomberg via Getty Images A Fossil é líder em híbridos
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Divulgação A Swatch já desenvolve próprio sistema operaciona­l
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