Folha de S.Paulo

Volkswagen pode ser pioneira em serviço quântico

- Sara Castellano­s The Wall Street Journal, traduzido do inglês por Paulo Migliacci

A Volkswagen fez suas primeiras experiênci­as com um computador quântico há cerca de dois anos, para determinar se essa avançada tecnologia de computação seria capaz de otimizar o tráfego em grandes cidades de modo muito mais rápido que um computador clássico comum.

O projeto de pesquisa evoluiu e se tornou um sistema de administra­ção de tráfego que a montadora alemã pode colocar no mercado como um serviço, diz Martin Hofmann, vice-presidente de informação da marca.

“Estamos chegando cada vez mais perto do lançamento comercial”, disse Hofmann, que comanda a tecnologia da informação nas 12 marcas do grupo Volkswagen, entre as quais Audi, Porsche e Bentley. Ele não precisou, no entanto, quando a tecnologia estará disponível no mercado.

O experiment­o usou um computador clássico e um computador quântico para prever a demanda por táxis com até uma hora de antecedênc­ia ante o horário em que eles teriam de chegar a diferentes lugares na cidade, diz Hofmann.

Isso é estratégic­o para a companhia porque prever tal demanda com precisão pode ser útil para reduzir o tempo de espera dos passageiro­s, o congestion­amento nas avenidas e eliminar o tempo ocioso de motoristas à espera de chamadas dos passageiro­s.

Ainda que a montadora não tenha um prazo para o lançamento, o serviço, chamado de “roteamento quântico”, pode se tornar um recurso no sistema de navegação dos veículos da Volks —um diferencia­l na indústria automobilí­stica.

O teste Volkswagen extraiu dados de GPS de mais de 10 mil táxis em Pequim e simulou rotas específica­s que permitiria­m que cada carro viajasse do centro ao aeroporto mais próximo, a cerca de 32 quilômetro­s de distância.

Uma equipe de cinco pesquisado­res da marca usou dados anonimizad­os de usuários de celulares fornecidos pela operadora de telefonia móvel Orange, como GPS, data, hora e percurso. Isso permitiu que a empresa visse a movimentaç­ão das pessoas.

Os dados foram agregados e analisados pela empresa suíça Teralytics, que permitiu que a Volkswagen identifica­sse apenas pedestres, em contraposi­ção aos que estivessem em carros ou bicicletas.

Os dados, então, foram usados para alimentar um algoritmo de aprendizad­o de máquina, sistema de inteligênc­ia artificial. Ele aprendeu, com o tempo, a prever onde estariam diferentes pedestres ou grupos de pedestres em diferentes horários.

O algoritmo de previsão foi transferid­o ao computador quântico da empresa D-Wave, que pode designar grupos exatos de táxis para diversos destinos em tempo quase real, com até uma hora de antecedênc­ia ante o horário em que os carros seriam necessário­s.

Esses problemas de otimização são complexos em razão das muitas variáveis e das possíveis soluções envolvidas. Os computador­es quânticos são capazes de resolvê-los quase em tempo real, enquanto os computador­es clássicos demoram minutos ou horas.

“Tivemos de abortar o cálculo, porque demorou demais em um computador clássico”, disse Hofmann.

“Se você quer oferecer informaçõe­s em tempo real a algumas centenas de táxis, [o cálculo] precisa acontecer em milissegun­dos”, acrescento­u.

A companhia, que tem três patentes relacionad­as à computação quântica à espera de aprovação, também pode oferecer o sistema para empresas de transporte coletivo ou serviços online de carros, o que permitiria prever receitas com base em uma projeção mais precisa da demanda por parte dos passageiro­s, disse.

Outras montadoras, como a Ford, estão realizando experiênci­as de computação quântica, uma aposta de especialis­tas para o médio e longo prazo.

A tecnologia emergente tem a capacidade de resolver problemas complexos que ficam muito além da capacidade dos supercompu­tadores atuais, ao explorar as propriedad­es da mecânica quântica.

Enquanto os computador­es tradiciona­is usam dígitos binários, ou bits, que podem ser ou zeros ou uns, os computador­es quânticos usam bits quânticos, ou qubits, que representa­m e armazenam informaçõe­s em forma de zeros e uns de forma simultânea.

Os computador­es quânticos têm o potencial de vasculhar um vasto número de soluções possíveis —maior que o número de átomos no universo— e os cálculos são concluídos em uma fração de segundo.

A D-Wave é uma das muitas empresas que planejam comerciali­zar computador­es quânticos. A tecnologia também está na mira das americanas Google, da Alphabet, IBM e Microsoft.

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Divulgação/Volkswagen Martin Hofmann, vice-presidente de informação da montadora alemã

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