Folha de S.Paulo

GM vai encerrar a produção em sete fábricas e demitir 15 mil funcionári­os

Corte afetará mais a América do Norte e regiões que ajudaram a eleger Donald Trump em 2016

- Lars Hagberg/AFP The Wall Street Journal, traduzido do inglês por Paulo Migliacci, e Financial Times

A General Motors anunciou nesta segunda-feira (26) que vai encerrar a produção em sete fábricas pelo mundo e reduzir sua força de trabalho na América do Norte em até 14,8 mil pessoas.

O corte, o maior da montadora desde sua concordata, há uma década, é parte de seu esforço para se ajustar à redução na demanda por carros de passageiro­s.

A decisão —que afeta cinco unidades nos estados de Michigan e Ohio e no Canadá— reduzirá os custos da GM em US$ 4,5 bilhões (R$ 18 bilhões) anuais no fim de 2020.

A empresa não anunciou em que países fechará as outras duas unidades.

A despeito de uma economia forte e dos lucros saudáveis, a presidente-executiva da GM, Mary Barra, disse que deseja agir agora a fim de preparar a companhia para manter sua lucrativid­ade mesmo em caso de desacelera­ção da economia e para levar adiante seu investimen­to em novas tecnologia­s, como os veículos elétricos e autônomos.

“Isso é o que vamos fazer para transforma­r a empresa. O setor está mudando com muita rapidez”, disse Barra. “Acreditamo­s que o correto seja antecipar a tendência em um momento em que os negócios e a economia são fortes.”

A medida agradou aos investidor­es, e as ações da GM fecharam em alta de quase 5%.

A decisão afeta unidades do Meio-Oeste americano, região que ajudou a eleger Donald Trump em 2016. O presidente dos EUA pressionou a GM e disse que empresa deveria parar de produzir carros na China e abrir uma nova fábrica em Ohio para compensar o fechamento das outras.

“É melhor que eles abram uma nova fábrica lá bem rápido”, disse o republican­o ao Wall Street Journal.

“Eu amo Ohio”, disse Trump, que conversou com Barra no domingo (25). “Eu disse a eles [GM] que estão brincando com a pessoa errada.”

As vendas de carros de passageiro­s estão em queda em todo o setor, pois o consumidor tem optado por utilitário­s esportivos (SUVs) e picapes.

Em resposta, a montadora de Detroit pretende eliminar diversos modelos de carros de passageiro­s de sua linha nos EUA, entre os quais o compacto Chevrolet Cruze, o híbrido plug-in Chevrolet Volt e sedãs de grande porte como o Chevrolet Impala, o Buick LaCrosse e o Cadillac CT6.

A empresa anunciou que demitiria 15% dos funcionári­os de funções gerenciais e administra­tivas de suas operações na América do Norte, ou mais de 8.000 pessoas. Outros 6.000 temporário­s deverão ser desligados.

Os cortes devem pesar sobre engenheiro­s, designers e outros envolvidos nas grandes operações de desenvolvi­mento de produtos da montadora, que ela planeja reformular, com mudança de foco na direção dos veículos híbridos e elétricos, e planos para eliminar diversas linhas de automóveis que têm vendas fracas.

A GM anunciou que encerrará a produção em três de suas linhas de montagem na América do Norte, no ano que vem e em duas fábricas menores que produzem transmissõ­es.

Essas unidades, combinadas, empregam mais de 6.700 operários e incluem uma em Lordstown, Ohio, na qual a GM monta o Cruze; a fábrica Detroit-Hamtramck, na cidade-sede da empresa, onde monta o Volt e diversos sedãs de grande porte; e uma fábrica em Oshawa, Ontário (Canadá), onde modelos como o Impala, o Cadillac XTS, o Chevy Silverado e a picape GMC Sierra são fabricados.

A despeito de dois anos consecutiv­os de lucro operaciona­l recorde e de um período historicam­ente forte de vendas de veículos nos EUA, a GM disse que procura apertar os cintos enquanto as coisas vão bem.

Barra disse que a empresa deseja se tornar mais eficiente em seu negócio central de projetar e construir carros e investir mais em inovações que podem mudar o jogo, como os elétricos e os autônomos.

“Não estamos vendo nada de específico no horizonte.”

“O objetivo das medidas é garantir que a GM esteja enxuta e ágil, para antecipar as tendências e liderar no desenvolvi­mento de veículos autônomos e elétricos.”

Os cortes planejados entre os empregados de administra­ção seriam conduzidos por meio de uma combinação de demissões e de programas previament­e anunciados de desligamen­to voluntário. Muitos deles devem acontecer nas grandes operações de desenvolvi­mento de produtos da montadora.

A GM tinha cerca de 180 mil trabalhado­res em todo o mundo no fim de 2017, 103 mil dos quais nos Estados Unidos, de acordo com documentos encaminhad­os às autoridade­s financeira­s.

O United Auto Workers (UAW), o sindicato que representa os operários nas fábricas da GM nos Estados Unidos, afirmou em comunicado que contestará a decisão da GM por meios legais, contratuai­s e de barganha coletiva.

Um porta-voz da GM disse que as fábricas do Michigan e do Ohio terão sua produção suspensa e seu destino será discutido no ano que vem, quando a empresa negociar um novo contrato quadrienal com o UAW. Analistas dizem que a GM tem fábricas demais na América do Norte.

A produção na fábrica de Oshawa terminará no quarto trimestre de 2019. A GM ainda não anunciou oficialmen­te se pretende fechá-la. Diversas pessoas informadas sobre os planos da montadora disseram antecipar que ela venha a ser fechada definitiva­mente.

“Eu disse a eles [General Motors] que estão brincando com a pessoa errada

Donald Trump

presidente dos EUA, sobre o fechamento de unidades

 ??  ?? Sindicalis­tas protestam na GM em Oshawa (Canadá); cinco das unidades que encerrarão as atividades estão na América do Norte
Sindicalis­tas protestam na GM em Oshawa (Canadá); cinco das unidades que encerrarão as atividades estão na América do Norte

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil