Folha de S.Paulo

Professora, viveu para contar os horrores do Holocausto

- Fernanda Canofre coluna.obituario@grupofolha.com.br

são paulo Quando eclodiu a Segunda Guerra Mundial, Miriam Brik Nekrycz viu seu mundo ser colocado em uma carroça. Nas ruas por onde a família passava, deixando a cidade de Lutsk, na Ucrânia, ela ouvia: “Oh, judeus! Não adianta fugir! Os alemães vão matar vocês todos!”.

Aos sete anos, aqueles dias de 1939 marcavam o começo dos anos mais difíceis de sua vida. Mais velha de quatro filhos, ela teve de virar adulta antes do tempo.

A infância, quando deveria estar brincando, Miriam passou fugindo por aldeias, florestas, aprendendo a ser católica para sobreviver. Viu o pai ser levado para nunca mais voltar. Viu a mãe, os irmãos gêmeos e os tios serem assassinad­os em um bunker. Viu o irmão do meio ser entregue aos alemães.

Acabou sozinha no mundo, uma das últimas judias de Lutsk para contar a história.

Antes de migrar para o Brasil, onde morava uma tia, Miriam foi para Israel. No caminho, o navio em que ela estava foi capturado por ingleses, e ela acabou como refugiada no Chipre. O Brasil foi sua última tentativa de vida nova.

Em São Paulo, virou professora em escolas judaicas. No trem que pegava todos os dias para ir trabalhar, conheceu o marido, o jornalista Ben Abraham, que esteve em Auschwitz. Juntos, os dois passaram a contar em palestras dentro e fora do Brasil sobre os horrores aos quais sobreviver­am.

No último dia 18 de novembro, aos 86 anos, Miriam morreu por falência de múltiplos órgãos. Três anos antes, ela havia perdido Ben e o filho Jacques. Deixou a filha Edith, genro, nora, netos e bisnetos.

“Ela deixa uma enorme lição de vida, coragem, amor e determinaç­ão. Era uma guerreira”, afirma a filha.

ANETE SCHULTZE Aos 78, casada com Carl J. Guenther Schultze. Deixa filhos Eduardo, Ana Maria, Carla e Silvana Schultze, nora, genro e netos. Terça (27/11) às 13h. Cemitério da Paz, Rua Dr. Luiz Migliano, 644, Morumbi.

7º DIA

DOROTHEA BENVINDA NUZZI Nesta terça (27/11) às 19h, Igreja Santo Inácio de Loyola, Rua França Pinto, 115, Vila Mariana

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