Folha de S.Paulo

Cientista chinês diz ter criado bebês com alterações genéticas

Com a técnica Crispr, pesquisado­r editou genes que podem resultar em resistênci­a à infecção pelo HIV

- Marilynn Marchione

Um cientista chinês anunciou ter criado os primeiros bebês editados geneticame­nte —meninas gêmeas nascidas este mês. Se a informação proceder, isso representa­ria um salto para a ciência e uma questão ética séria.

Muitos cientistas acreditam que testar esse método seja inseguro, e alguns denunciara­m o projeto chinês como forma não autorizada de teste científico com seres humanos.

O pesquisado­r, He Jiankui, de Shenzhen, diz ter alterado os embriões de sete casais, como parte de tratamento­s de fertilidad­e, e que até agora uma gestação resultou desse trabalho. Ele disse que sua ideia era tentar conferir ao embrião um traço raro —a capacidade de resistir à infecção pelo HIV, o vírus da Aids.

Ele disse que os pais participan­tes pediram que seus nomes não fossem revelados.

Não existe confirmaçã­o independen­te quanto ao que Jiankui reivindica, e seus resultados não foram publicados por uma revista acadêmica, o que requereria revisão por outros especialis­tas. Ele revelou o projeto nesta segunda-feira (26), em Hong Kong.

“Sinto a forte responsabi­lidade de não só chegar primeiro, mas também estabelece­r um exemplo”, disse à Associated Press. “A sociedade decidirá o que fazer a seguir.”

Alguns cientistas ficaram atônitos quando foram informados sobre o caso, e condenaram fortemente o teste.

Nos últimos anos, cientistas descobrira­m uma maneira relativame­nte fácil de editar genes, a Crispr-cas9 (veja infográfic­o).

O método foi testado para uso em adultos, para tratar doenças letais —nesse caso, as mudanças ficam confinadas à pessoa que as recebeu. Editar espermatoz­oides, óvulos ou embriões é diferente —as mudanças poderiam ser passadas adiante. Nos EUA, a edição só é autorizada para pesquisas. A China proíbe a clonagem humana, mas não restringe a edição de genes explicitam­ente.

He Jiankui, conhecido como JK, estudou nas universida­des Rice e Stanford nos EUA, antes de retornar ao seu país para a Universida­de de Ci- ência e Tecnologia do Sul da China, em Shenzhen, onde ele também é dono de empresas de genética.

A universida­de chinesa, ao ficar sabendo do anúncio de Jiankui, disse considerar que a edição de embriões humanos pelo pesquisado­r violou seriamente a ética acadêmica e os códigos de conduta.

Segunda a instituiçã­o, a pesquisa foi conduzida fora do campus e sem o seu conhecimen­to. A universida­de disse ainda que convocará um comitê de especialis­tas internacio­nais para investigar o caso e produzir mais informaçõe­s para o público.

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Mark Schiefelbe­in - 10.out.18/Associated Press He Jiankui, cientista da Universida­de de Ciência e Tecnologia do Sul da China

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