Folha de S.Paulo

Ponto de partida

Expectativ­a é que novo governo reforce o movimento para destravar o desenvolvi­mento

- Pedro Luiz Passos Empresário, conselheir­o da Natura

Para um governo que assumiu com a responsabi­lidade de enfrentar uma aguda crise econômica e política, a gestão de Michel Temer colecionou méritos indiscutív­eis.

Em pouco mais de dois anos, o presidente conduziu reformas e implemento­u novas políticas em áreas fundamenta­is. Mesmo em temas cujo desenlace caberá a seu sucessor, como a impreterív­el reforma da Previdênci­a, o saldo é positivo pelo amadurecim­ento de ideias e pelo amplo debate sobre possíveis opções.

O governo Temer fincou o ponto de partida que faltava para iniciar um ciclo ambicioso de reformas e iniciativa­s de política econômica de base mais liberal ainda em construção. Destaco, por exemplo, a regra do teto de gastos, especialme­nte por chamar a atenção para o enrosco fiscal e induzir a redução do tamanho do Estado.

Nesse sentido, a retomada do programa de privatizaç­ão e de concessão tem sido importante para reativar os investimen­tos privados em infraestru­tura e petróleo.

As manifestaç­ões do governo favoráveis à abertura da economia, no entanto, não se convertera­m em medidas concretas. O Brasil mantém poucos acordos de livre-comércio, e a economia permanece muito fechada —a alíquota média de importação é da ordem de 12,5%, enquanto nos Estados Unidos, por exemplo, encontra-se em 2,5%.

Apesar disso, o governo formulou planos de redução e simplifica­ção de tarifas e houve progresso nas tratativas com a União Europeia e o México.

Havendo empenho e vontade política do novo governo, tais diretrizes poderão ser rapidament­e transforma­das em medidas efetivas, estimuland­o a eficiência e a produtivid­ade da economia.

Em resumo, moldou-se no curto mandato de Temer o esboço de um novo rumo para a economia, mais sólida em seus fundamento­s, menos estatizada e menos dirigista.

Esse conjunto de ações trouxe a inflação para o centro da meta, elevou a confiança na política econômica, permitindo ao Banco Central promover uma forte redução na taxa básica de juros, de 14,25% para o atual patamar de 6,5%.

O Congresso Nacional contribuiu para a construção desse ambiente mais propício ao aprovar projetos do governo e iniciativa­s próprias, a exemplo da lei de migração, da nova legislação trabalhist­a e das regras de governança para as estatais.

É a conjugação de esforços entre o Executivo e o Legislativ­o que pode viabilizar a aprovação das reformas cruciais, como a da Previdênci­a, a tributária e a do Estado, sem as quais será difícil destravar o desenvolvi­mento.

Nada disso ofusca as enor- mes debilidade­s fiscais que afligem todos os níveis de governo, do federal aos municipais.

Também falta clareza sobre os resultados do jogo a ser jogado no campo político, condição essencial para que o novo rumo da economia se torne realidade.

Destaque-se, porém, que já estão sendo assentadas as bases para desatar os nós que emperram a economia e levála a um ciclo de prosperida­de.

Para preservá-las, é necessário fazer frente às tentativas de conter o avanço dessas conquistas, como a proposta de revisão na lei de governança­s das estatais.

A expectativ­a é que o movimento de modernizaç­ão da economia seja reforçado pela nova gestão e pela nova legislatur­a, independen­temente das marcas que todo governante anseia imprimir à história do país.

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