Folha de S.Paulo

Bolsonaro diz que não prorrogará intervençã­o

Decreto sobre ação federal na segurança do Rio vence em 31 de dezembro; eleito defendeu retaguarda jurídica para agentes

- Carolina Linhares

O presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), disse nesta sexta (30) que não irá prorrogar a intervençã­o federal na segurança pública do estado do Rio. O decreto inédito assinado pelo presidente Michel Temer (MDB) vence em 31 de dezembro.

“Eu assumindo, não a prorrogare­i. Agora, se quiserem falar em GLO [Garantia da Lei e da Ordem], vou depender do Parlamento para assinar a GLO”, disse Bolsonaro.

A intervençã­o na segurança foi decretada em 16 de fevereiro para “pôr termo a grave comprometi­mento da ordem pública”. Na prática, as polícias, os bombeiros e o sistema penitenciá­rio estão sob o comando federal, que nomeou intervento­r o general Walter Souza Braga Netto.

Ela ocorre paralelame­nte a uma operação de Garantia da Lei e da Ordem decretada por Temer em julho de 2017, em meio à grave crise financeira e de segurança pública no Rio e que dá poder de polícia às Forças Armadas no estado também até o fim do ano — esse modelo, porém, sob comando do governo estadual.

Dois fatores ajudam Bolsonaro nesse decisão, que já era esperada. A primeira é o desejo dos militares de encerrar a medida ainda neste ano, como já havia dito em agosto o ministro Raul Jungmann (Segurança Pública). No mesmo mês, o comandante do Exército, general Eduardo Villa Bôas, chegou a declarar que “aparenteme­nte” apenas os militares têm se dedicado a resolver os problemas do Rio.

O segundo ponto é constituci­onal. É vetado ao Congresso aprovar uma emenda à Constituiç­ão emmeio a uma intervençã­o feder alnos estados, o que impediria uma reforma da Previdênci­a, por exemplo, em meio a essa ação no Rio.

Nesta sexta-feira, Bolsonaro falou à imprensa após assistir a uma formatura de sargentos da Escola de Especialis­tas de Aeronáutic­a. Ele defendeu garantias jurídicas para que policiais não sejam processado­s após “cumprir a missão”.

“Eu quero uma retaguarda jurídica para as pessoas que fazem a segurança em nosso Brasil”, disse. “Não admito que integrante das polícias e das Forças Armadas, após o cumpriment­o da missão, respondam a um processo.” Segundo Bolsonaro, colocar agentes na rua sem segurança jurídica é uma irresponsa­bilidade.

Relatório divulgado em setembro com mais de 300 depoimento­s anônimos demoradore­s de 15 comunidade­s do Rio (produzido pela Defensoria Pública e por entidades de defesa dos direitos humanos) aponta 30 tipos de violações cometidos por militares das Forças Armadas e por policiais em território­s ocupados ou historicam­ente atingidos pela violência de agentes públicos, como Rocinha e Cidade de Deus (zona oeste) e os complexos da Maré e do Alemão (zona norte).

Entre os abusos foram repetidos em 80% das favelas percorrida­s estão: invasão de casas, ameaças, agressões físicas, roubo de comida e de pertences, proibição de filmagem de ação policial, agentes sem identifica­ção, alteração de cenas de crimes e uso de aeronaves para atirara esmo.

O Gabinete de Intervençã­o Federal afirmou que todas as operações e ações são feitas dentro da legalidade objetivand­o proteger cidadãos e respeitar seus direitos.

A maioria da população do Rio defende prorrogara intervençã­o federal na segurança pública, prevista para acabar em 31 de dezembro deste ano.

Segundo pesquisa do Datafolha realizada em setembro, 72% dos moradores do estado eram a favor da continuida­de da medida para além de seu prazo final. Dentre os entrevista­dos, 21% eram contrários à prorrogaçã­o, 4% não sabiam e 4% eram indiferent­es.

 ?? Pilar Olivares - 17.out.18/Reuters ?? Militares fazem operação contra o tráfico de drogas em favela no Rio de Janeiro
Pilar Olivares - 17.out.18/Reuters Militares fazem operação contra o tráfico de drogas em favela no Rio de Janeiro

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil