L7 volta ao país 25 anos após shows que inspiraram geração
Grupo que pregava o ‘poder da xoxota’ marcou festival Hollywood Rock, no Rio
Priscilla ainda se lembra de ver na TV as quatro garotas gritando “pussy power!” (poder da xoxota) frente a um público enlouquecido.
Era 1993. Então aos 16 anos, a jovem já tocava bateria, mas faltavam referências femininas. “O impacto de ver um grupo só de mulheres tocando de forma tão visceral foi essencial para meu futuro na música.”
Já Gabriel foi à praça da Apoteose, no Rio de Janeiro, para ver Nirvana, Alice in Chains e Red Hot Chili Peppers, então alçados ao panteão do rock.
Mesmo em meio à estrelada escalação do festival, ele ainda recorda a “paulada” que sentiu frente àquelas garotas até então desconhecidas no Brasil.
Priscilla virou a cantora Pitty, 41, ícone do rock brasileiro, meio em que Gabriel Thomaz, 44, ascendeu como guitarrista do grupo Autoramas.
Como eles, incontáveis músicos de rock, punk e hardcore se inspiraram na histórica última visita do L7, há 25 anos, no quarto Hollywood Rock.
Fazia poucos anos que o país havia sido inserido na rota do showbiz; visitas de bandas badaladas eram tão inusitadas que passavam na TV aberta.
Daí que os shows tenham impactado gerações de jovens que, na pista ou em casa, sonhavam tocar como a banda de Donita Sparks, famosa pelo hit “Pretend You’re Dead”.
De volta, o grupo toca no Rio, neste sábado (1º/12), e em São Paulo, no domingo (2), e ainda visitará Porto Alegre, Curitiba e Belo Horizonte.
“Nos divertimos com a energia de fãs e outros músicos, como Kurt Cobain”, diz Sparks, 55, vocalista e guitarrista do L7, citando o líder do Nirvana, morto em 1994.
Era o auge do L7, nascido em 1985, em Los Angeles, e àquela altura com Suzi Gardner (guitarra), Jennifer Finch (baixo) e Demetra Plakas (bateria).
O grupo sofreu diversas mudanças na formação até 2001, quando deu um tempo.
Em 2014, voltou aos palcos com a escalação clássica. Veio um documentário (“L7: Pretend We’re Dead”) em 2016, e, em 2019, virá um novo disco.
Músicas dessa safra, como “I Came Back to Bitch”, deste ano, podem aparecer no Brasil —em São Paulo, a abertura terá as bandas Soul Asylum, Pin Ups e Deb and the Mentals.
“Ouvimos coisas novas, mas hoje o que nos influencia somos nós mesmas”, diz Sparks.
Já a motivação da banda, ela diz, é a mesma: dar voz a quem não tem. “Nosso público ainda são as pessoas marginalizadas que lutam por direitos.”
E como ela vê a representa- tividade feminina na indústria musical hoje? “Há mais delas, mas enfrentam os mesmos percalços: sempre tivemos de lutar por nós mesmas.”
Lutar tem sido uma constante para o grupo, surgido numa época em que se dizia que o rock seria morto pelo pop.
Nos anos seguintes, Sparks e as colegas batalharam espaço no meio alternativo, antecipando o modelo independente de gestão que marcaria a produção pós-internet.
Para ela, há semelhanças com o contexto atual, em que a juventude abraça o hip-hop.
“É um ótimo momento para surgirem atrações rebeldes. Os jovens precisam de arte que os ajude a expressar frustrações, isolamento e raiva.”
Para ela, essa é missão a ser cumprida por fãs e contratantes, inclusive —e principalmente— os de festivais.
“Por que não estamos no Lollapalooza Brasil em 2019? Você pode perguntar a eles?”
L7
Sáb. (1º), 19h, no Circo Voador (Rio de Janeiro); dom. (2), às 17h, no Tropical Butantã (São Paulo); ter. (4), às 19h, no Bar Opinião (Porto Alegre); qua. (5), às 19h, no Hermes Bar (Curitiba); qui. (6), às 20h, no Music Hall (Belo Horizonte). 16 anos. Ingr.: R$ 70 a R$ 300