G20 apoia reforma na OMC e reafirma pacto climático
Documento final não menciona, porém, protecionismo e guerra comercial
A cúpula do G20, encerrada ontem em Buenos Aires, defendeu em seu documento final mudanças na Organização Mundial do Comércio. O comunicado também reforça a importância do Acordo de Paris e explica que os EUA, fora do pacto, ajudarão de outras formas.
A cúpula do G20 terminou neste sábado (1º) em Buenos Aires com um comunicado que reafirma o compromisso com o comércio internacional e o esforço dos países que integram o grupo para enfrentar a mudança climática.
O texto afirma que o Acordo de Paris “é irreversível”. Porém, não menciona o tema do protecionismo e diz que apenas os “signatários do Acordo de Paris reafirmam que se comprometerão com sua implementação total”.
Em outro item, explica-se que os Estados Unidos reiteram que permanecerão fora do acordo climático, mas que se comprometem em ajudar de outras maneiras.
Em entrevista a jornalistas, o presidente argentino, Mauricio Macri, por sua vez, afirmou que os países que integram o acordo “sabemos que todos temos que aumentar nosso esforço porque estamos num ponto limite”.
Tampouco há, no texto final, uma menção direta com relação à guerra comercial travada entre Washington e Pequim. Indagado sobre o tema, Macri disse que “todos estamos na expectativa do resultado da reunião entre China e EUA”.
No momento mais aguardado do G20, os líderes dos EUA, Donald Trump, e da China, Xi Jinping, jantaram no começo da noite, após o encerramento da cúpula, mas até o fechamento desta edição não havia informações sobre o conteúdo da conversa —jornalistas só tiveram acesso a um curto momento antes da refeição.
Ambos, porém, trocaram afagos antes do início da reunião. Trump disse que a China tinha um relação “especial” com os EUA e que sua intenção era “discutir sobre comércio para que possamos fazer algo que seja genial para ambos os países.”
Já Xi disse que “a cooperação entre nossas duas nações é de interesse para manter a paz e garantir a prosperidade do planeta”.
O documento final da cúpula reafirma que a solução para o atual dilema nas relações internacionais de comércio passaria pela “necessária reforma da OMC (Organização Mundial do Comércio) para melhorar seu funcionamento.”
Macri comentou que o brasileiro Roberto Azevêdo, diretor-geral da OMC, “saiu daqui com uma caixa de propostas e vamos acompanhar o seu trabalho nos próximos meses”.
O acordo tem um item longo sobre as mulheres. “Nos comprometemos em reduzir o abismo entre os dois sexos no mercado em 25% até 2025”.
E sobre os imigrantes, “vivemos num mundo em que há grandes movimentos de refugiados e isso tem de ser uma preocupação global com o impacto humanitário, político, social e econômico desses movimentos.”
Indagado sobre seus encontros com o presidente turco Recep Tayyip Erdogan e com o príncipe saudita Mohammed bin Salman, Macri afirmou que conversou sobre as investigações do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi com o turco, mas não com o saudita, principal suspeito de ser o mandante do crime.
Um pouco antes da entrevista do presidente, os ministros argentinos da Economia, Nicolás Dujovne, e das Relações Exteriores, Jorge Faurie, afirmaram que “o texto final do
Trecho do texto final do G20
encontro reflete o consenso possível, disponível, no momento da assinatura, tanto com relação ao comércio como com relação ao clima”.
“Reconhecemos a contribuição do sistema de comércio multilateral. Atualmente, este sistema é insuficiente, e há espaço para melhorá-lo
do G20 joga para uma reforma da OMC (Organização Mundial do Comércio) a tentativa de desarmar as tensões no comércio internacional, provocadas também por Donald Trump.
A OMC é a mais importante instituição multilateral no âmbito econômico, talvez até mais que o Fundo Monetário Internacional, porque suas decisões afetam o dia a dia do comércio, ao passo que o FMI atua mais decisivamente em emergências.
Em tese, portanto, ao aceitar transferir para um organismo multilateral a guerra comercial, os Estados Unidos estariam violando seu desprezo pelo multilateralismo.
Não é bem assim: a reforma que está em fase embrionária na OMC transfere as negociações para grupos plurilaterais —ou seja, para um multilateralismo descafeinado.
Nada impede, ademais, que Trump decida continuar a agir unilateralmente em sua guerra com os chineses, enquanto se debate a reforma da OMC. São duas sendas paralelas.
A crise do multilateralismo já estava no horizonte desde o primeiro discurso da cúpula do G20, pronunciado pelo anfitrião, o presidente Maurício Macri: ele reconheceu que, nos últimos anos, houve “um questionamento sobre os mecanismos multilaterais contemporâneos, incluído o G20 e surgiram versões entre os países sobre como encarar individualmente os desafios globais”.
Para quem gosta de enxergar sinais em detalhes, não deixa de ser eloquente que os organizadores da cúpula esqueceram de retirar uma faixa antiga, colocada bem em frente ao centro de mídia do encontro, passagem obrigatória para os 2.500 jornalistas credenciados. Dizia: “Liquidación por cierre” (liquidação para fechamento).
Aludia a uma crise na faculdade de Ciências Exatas, mas talvez venha a servir para o G20.