Folha de S.Paulo

Carinhos sem ter fim

- Ruy Castro

Leitores da Ilustríssi­ma no último domingo (18) se surpreende­ram com o carinho e admiração de Elza Soares por João Gilberto, de como se conheceram numa gravadora e de quanto ela lhe era grata pelo apoio que recebera dele “no início de sua carreira”. A surpresa talvez se deva ao fato de serem artistas tão diferentes —ele, apolíneo; ela, dionisíaca. Pois é tudo verdade. Ou quase.

Quando eles se encontrara­m, em 1959, no estúdio da Odeon, na avenida Rio Branco, Elza já tinha dez anos de carreira. De caloura dos programas de auditório tornara-se crooner de orquestras de baile, corista do teatro de revista da praça Tiradentes e cantora do coro do balé afro-brasileiro de Mercedes Baptista numa temporada em Buenos Aires. Com esse cartel, Elza já estava pronta. Só faltava ser descoberta. O que aconteceu quando ela voltou ao Rio, e o sambista Moreira da Silva a indicou à Rádio Tupi. Dali, Elza saltou para a boate Texas, no Leme.

Sylvia Telles, estrela da bossa nova, a escutou na boate. Sylvia era contratada da Odeon e mulher de Aloysio de Oliveira, diretor da gravadora. Ela levou Aloysio para ouvir Elza, e ele a contratou no ato. Elza gravou “Se Acaso Você Chegasse” e, um mês depois, em janeiro de 1960, “Edmundo”, ambos explosivos. Ali nascia Elza Soares, para sempre.

João Gilberto também era contratado da Odeon. Os dois não apenas se viam no estúdio como se apresentav­am nos programas de rádio e TV agendados pela gravadora — sim, João Gilberto cumpria direitinho essas obrigações. E por quem Elza se apaixonou? Pelo baterista de João Gilberto e também contratado da Odeon, o frágil e tímido Milton Banana.

Elza e Banana ficaram juntos por dois anos. Até que, em 1962, Elza conheceu Garrincha. O resto, você sabe. Foi duro para o querido Banana perder a mulher de sua vida para um ídolo do futebol brasileiro. E, pior ainda, logo do seu time, o Botafogo.

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