Folha de S.Paulo

Para se viabilizar, Maia e Renan acenam a governo e oposição

Candidatos na Câmara e no Senado, defendem pauta econômica, mas não a de costumes

- Marina Dias e Daniel Carvalho

Símbolos da política tradiciona­l renegada por Jair Bolsonaro, os dois principais candidatos ao comando da Câmara e do Senado colocaram em marcha um plano de articulaçã­o que equilibra interesses da esquerda e do novo governo.

O deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) e o senador Renan Calheiros (MDB-AL) elaboraram pelo menos dois discursos para tentar convencer seus pares de que são a melhor opção para assumir as Casas a partir de fevereiro de 2019.

Aos aliados do presidente eleito, garantem que vão fazer avançar sua pauta econômica liberal. Aos partidos de centro-esquerda, que serão uma espécie de muro de contenção à agenda de costumes conservado­ra defendida por Bolsonaro e seus apoiadores.

Maia tem conversado com o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, e investido no diálogo individual com deputados da base do novo governo. Quer mostrar que não trabalhará contra o Planalto no que diz respeito às reformas estruturai­s. De olho em chefiar o Senado pela quarta vez, Renan segue o mesmo roteiro.

O senador alagoano jantou com o guru econômico de Bolsonaro na semana passada, falou sobre o possível apoio a bandeiras como a reforma da Previdênci­a, mas foi pouco assertivo sobre seus planos de voltar a dirigir o Congresso.

O presidente da Câmara, por sua vez, defende as mudanças na aposentado­ria desde quando a proposta foi apresentad­a pelo governo Michel Temer e tem se mostrado disposto a trabalhar pela aprovação da medida no próximo ano.

Sabe, porém, que suas chances de presidir mais uma vez a Câmara diminuem se a base de Jair Bolsonaro apoiar outro nome ao posto —os deputados João Campos (PRBGO) e Capitão Augusto (PRSP) despontara­m entre aliados do presidente eleito.

Já com partidos como PDT, PC do B e PSB, com quem tem trânsito desde sua primeira eleição, Maia deixa claras suas diferenças com Campos e Augusto e diz que propostas como o Escola sem Partido e debates sobre a “cura gay” não devem prosperar sob sua tutela.

Uma das conselheir­as de Bolsonaro, a deputada eleita Joice Hasselmann (PSL-SP) disse a Maia que o ajudaria a vencer resistênci­as dentro do PSL. Segundo ela, seus colegas não veem o deputado como candidato ideal, mas entendem que ele tem experiênci­a e habilidade de articulaçã­o.

A grande dificuldad­e da equipe do novo governo será justamente o diálogo com os parlamenta­res.

Com discurso contra a velha política, Bolsonaro escolheu seus ministros privilegia­ndo as bancadas temáticas, e não líderes e presidente­s de partidos, como era feito pelos governos de coalizão.

Essas frentes parlamenta­res podem ser importante­s para a aprovação de projetos da agenda de costumes, mas não serão suficiente­s quando o assunto for reformas econômicas, que precisam de um arco de apoio mais sólido.

Renan também é visto com desconfian­ça pela base de Bolsonaro, mas se coloca como capaz de costurar grandes acordos no Congresso.

Suas articulaçõ­es para presidir o Senado correm diante da falta de unidade na bancada do MDB e da possível candidatur­a de Tasso Jereissati (PSDB-CE) para o posto.

Senadores experiente­s, porém, afirmam que Tasso não deve se viabilizar, mas que Renan só vai se declarar candidato quando tiver certeza de que tem votos para vencer a disputa.

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Pedro Ladeira - 8.nov.16/Folhapress O senador Renan Calheiros (MDB-AL) e o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) no Congresso

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