Para se viabilizar, Maia e Renan acenam a governo e oposição
Candidatos na Câmara e no Senado, defendem pauta econômica, mas não a de costumes
Símbolos da política tradicional renegada por Jair Bolsonaro, os dois principais candidatos ao comando da Câmara e do Senado colocaram em marcha um plano de articulação que equilibra interesses da esquerda e do novo governo.
O deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) e o senador Renan Calheiros (MDB-AL) elaboraram pelo menos dois discursos para tentar convencer seus pares de que são a melhor opção para assumir as Casas a partir de fevereiro de 2019.
Aos aliados do presidente eleito, garantem que vão fazer avançar sua pauta econômica liberal. Aos partidos de centro-esquerda, que serão uma espécie de muro de contenção à agenda de costumes conservadora defendida por Bolsonaro e seus apoiadores.
Maia tem conversado com o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, e investido no diálogo individual com deputados da base do novo governo. Quer mostrar que não trabalhará contra o Planalto no que diz respeito às reformas estruturais. De olho em chefiar o Senado pela quarta vez, Renan segue o mesmo roteiro.
O senador alagoano jantou com o guru econômico de Bolsonaro na semana passada, falou sobre o possível apoio a bandeiras como a reforma da Previdência, mas foi pouco assertivo sobre seus planos de voltar a dirigir o Congresso.
O presidente da Câmara, por sua vez, defende as mudanças na aposentadoria desde quando a proposta foi apresentada pelo governo Michel Temer e tem se mostrado disposto a trabalhar pela aprovação da medida no próximo ano.
Sabe, porém, que suas chances de presidir mais uma vez a Câmara diminuem se a base de Jair Bolsonaro apoiar outro nome ao posto —os deputados João Campos (PRBGO) e Capitão Augusto (PRSP) despontaram entre aliados do presidente eleito.
Já com partidos como PDT, PC do B e PSB, com quem tem trânsito desde sua primeira eleição, Maia deixa claras suas diferenças com Campos e Augusto e diz que propostas como o Escola sem Partido e debates sobre a “cura gay” não devem prosperar sob sua tutela.
Uma das conselheiras de Bolsonaro, a deputada eleita Joice Hasselmann (PSL-SP) disse a Maia que o ajudaria a vencer resistências dentro do PSL. Segundo ela, seus colegas não veem o deputado como candidato ideal, mas entendem que ele tem experiência e habilidade de articulação.
A grande dificuldade da equipe do novo governo será justamente o diálogo com os parlamentares.
Com discurso contra a velha política, Bolsonaro escolheu seus ministros privilegiando as bancadas temáticas, e não líderes e presidentes de partidos, como era feito pelos governos de coalizão.
Essas frentes parlamentares podem ser importantes para a aprovação de projetos da agenda de costumes, mas não serão suficientes quando o assunto for reformas econômicas, que precisam de um arco de apoio mais sólido.
Renan também é visto com desconfiança pela base de Bolsonaro, mas se coloca como capaz de costurar grandes acordos no Congresso.
Suas articulações para presidir o Senado correm diante da falta de unidade na bancada do MDB e da possível candidatura de Tasso Jereissati (PSDB-CE) para o posto.
Senadores experientes, porém, afirmam que Tasso não deve se viabilizar, mas que Renan só vai se declarar candidato quando tiver certeza de que tem votos para vencer a disputa.