Folha de S.Paulo

Tite analisa o Brasileiro

Para o técnico da seleção, campeonato está de acordo com investimen­to feito

- Paulo Vinicius Coelho Jornalista, cobriu seis Copas do Mundo (1994, 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018)

Tite não se junta à multidão para afirmar que o Campeonato Brasileiro é fraco. Também não elogia. Na conversa da qual este colunista fez parte, na sede da CBF, quinta-feira (29), o técnico foi questionad­o sobre o torneio que termina neste domingo (2) servir de parâmetro para convocaçõe­s. Disse que sim.

Se convoca Arthur e Richarliso­n, que jogavam aqui há um ano, e Lucas Paquetá, destaque do Flamengo e contratado pelo Milan (ITA), a resposta tinha de ser na direção de que o Campeonato Brasileiro oferece segurança para entender que certos jogadores têm nível internacio­nal. Merecem ser convocados.

O craque do campeonato, Dudu, na sua opinião, subiu de produção no segundo semestre. É fato.

Mas Tite relativiza: “Não diria que é fraco. É dentro do investimen­to que recebe.”

Questiono: “Investimen­to financeiro ou de ideias?”

Tite responde: “As duas coisas.”

O Flamengo e o Palmeiras têm orçamento semelhante ao de clubes intermediá­rios da Espanha, como Valencia e Sevilla.

Fluminense, Botafogo e Atlético-PR, arrecadam anualmente menos do que o Betis, da Espanha.

O aspecto financeiro interfere, mas a falta de continuida­de é o outro problema.

“O técnico brasileiro pensa se vai ter emprego na terceira derrota. Muitas vezes, quebra a bola para o ataque para prendê-la na frente e tentar o gol. Claro que isso tira beleza dos jogos”, diz o técnico da seleção.

Ao mesmo tempo, Tite vê times que tentaram jogar futebol com bola no chão, construção, imposição ao adversário.

“Temos duas escolas. A da troca de passes e a da rapidez para definir jogadas. Há times que jogam, como o Ceará, o Atlético-PR, o Grêmio e o Flamengo. Outros que procuram a ligação mais rápida, como o Palmeiras.”

A mais surpreende­nte das observaçõe­s de Tite compara partidas disputadas durante a edição do Campeonato Brasileiro que termina neste domingo com os campeonato­s nacionais mais badalados do mundo: “Assisti no estádio a São Paulo e Flamengo (1 a 1) e Liverpool e Manchester City (0 a 0). Podemos analisar as circunstân­cias, mas São Paulo e Flamengo foi melhor.”

No último dia docam peona to,é necessário fazer uma avaliação isentado que aconteceu. A pior média de gols desde 1990(2,19 a1,89)é um sintoma alarmante. Mas 1971, com todos os tricampeõe­s mundiais jogando aqui, teve índice pior ainda (1,83). Eéim possível ter sido ruim o Campeonato Brasileiro disputado com Pelé, Tostão, Jairzinho, Gérson, Rivellino, Zico e Roberto Dinamite, jogadores maduros e novatos.

O número atual é assustador. É preciso fazer algo para melhorar. Mas não indica que este seja o pior campeonato dos últimos trinta anos.

Falávamos que o Brasileiro estava nivelado por baixo. Desde 1985 se escuta esse chavão. Neste ano, a frase mudou, felizmente.

A crítica usa uma palavra mais exata: o campeonato é fraco.

Tite não diz o mesmo, mas o que vale é que se faça uma análise justa, de preferênci­a num debate promovido pela CBF ou por um veículo de comunicaçã­o.

É preciso debater por que o campeonato não tem o nível desejado.

Conhecer seu estágio atual e planejar as metas para melhorar.

O Campeonato Brasileiro não foi pior do que o Português, o Argentino ou o Italiano. Mas é outro esporte comparado com o Inglês, o Espanhol e o Alemão.

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