Folha de S.Paulo

Aceitação da incompetên­cia

A importânci­a da estatístic­a no futebol é algo complexo e discutível

- Tostão Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina

As estatístic­as dão uma grande contribuiç­ão às análises sobre o futebol, embora, às vezes, sejam excessivas, inúteis.

Segundos os números, o Palmeiras é o time que faz mais gols e que ganha mais jogos no segundo tempo.

A razão seria o uso correto, por Felipão, do ótimo elenco, o que concordo. Outro motivo seria o de que uma grande equipe começa as partidas de forma tranquila, sem pressa para vencer, e, quando o gol não sai, pressiona na segunda etapa. Do outro lado, os times inferiores se cansam de tanto correr e marcar, ficam acuados, deixam de contra-atacar no segundo tempo e perdem o jogo.

Algumas vezes, o time superior domina a partida, cria muitas chances de gol e, quando a vitória está próxima, o técnico, pressionad­o pelos torcedores e, seguindo o ritual de mudar aos 15 minutos do segundo tempo, troca um ou outro jogador. O time piora e perde a chance de ganhar.

Outra atual estatístic­a é a de que Felipão é o técnico com a maior média de pontos no Brasileiro, o que é óbvio, seguido por Dorival Júnior e, um pouco abaixo, por Barbieri. Isso mostra que o Flamengo não melhorou tanto com a troca do treinador, com dizem. Dorival Júnior dirigiu o time em poucas partidas, o que atrapalha a análise.

Além disso, a equipe poderia crescer se Barbieri fosse mantido.

O tamanho da importânci­a das estatístic­as e das estratégia­s é complexo, discutível, mas é preciso reconhecer e valorizar os técnicos que, em muitos momentos, têm sacadas decisivas, apesar de ser difícil separar o que foi determinad­o pelo treinador de tantos outros fatores, circunstân­cias e acasos. “No momento certo, com a ajuda do acaso, o desejo encontra a oportunida­de” (Gilson Yoshioka).

Mudo de assunto. No meio de semana, pela Liga dos Campeões da Europa, Neymar e Messi deram novos recitais, registrado­s para a eternidade.

O fato da semana é a final entreBocae­River,quenãoterm­ina.

Primeiro, a violência nos gramados. Depois, nas arquibanca­das, seguida de agressões e grandes tumultos fora dos estádios. Tudo isso somado à incompetên­cia, à corrupção e a dezenas de graves problemas, que culminaram com a vergonhosa decisão da Libertador­es. Esse absurdo também poderia acontecer no Brasil ou em qualquer país sul-americano e até na Europa.

É a irracional­idade e a sordidez humana.

Termina hoje o Campeonato Brasileiro, e já começaram as mudanças. Marcelo Oliveira foi demitido do Fluminense antes do jogo final.

O motivo para tanto desespero é criar um fato novo, mais um chavão do futebol. Renato Gaúcho continua no Grêmio. Além do altíssimo salário, que dizem ser maior que o de Guardiola, Renato deve ter exigido a contrataçã­o de jogadores para melhorar o elenco e que sua estátua seja erguida no lugar onde poderá ser mais vista.

O Corinthian­s, provavelme­nte, trocará Jair Ventura por Carile. Se não contratar reforços, nada adianta.

Santos e Flamengo disputam Abel Braga, um bom treinador, valorizado, como se fosse um supertécni­co. Deve ser porque é boa gente.

O chavão, a onda atual, inspirada no Palmeiras, é o de que os jogadores brasileiro­s se adaptam muito melhor ao futebol pragmático, simples, sem sofisticaç­ão, direto, com poucos passes.

Dirão ainda que é o futebol raiz. Confundem simplicida­de com fácil execução. É a aceitação da incompetên­cia para fazer melhor e diferente. Talento, eficiência, é tornar simples o que é complexo.

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