Folha de S.Paulo

Projetos sustentáve­is chegam ao mercado de imóveis residencia­is

Antes restritas a edifícios comerciais, soluções para poupar recursos naturais e econômicos são tendência

- Rafael Andery

As iniciativa­s sustentáve­is, antes mais comuns em prédios comerciais e públicos, chegaram de vez aos edifícios residencia­is.

Hoje, o Brasil tem três construtor­as (Trisul, Rio Verde e Tarjab) com o certificad­o de empreended­or Aqua-HQE, que é emitido pela Fundação Vanzolini para as incorporad­oras que se compromete­m a atender a uma série de critérios ambientais e de gestão ecológica em seus lançamento­s.

Os itens de série de uma construção verde incluem desde a orientação da fachada dos edifícios até o uso de energia solar para o aqueciment­o de água ou a instalação de pontos de recarga para veículos elétricos.

“Uma coisa é você falar para o cliente que o seu empreendim­ento se preocupa com a sustentabi­lidade. Outra totalmente diferente é ter uma comprovaçã­o de que de fato se preocupa com o tema”, diz Ângela Son, coordenado­ra-geral de projetos da Trisul.

A construtor­a lançou recentemen­te o Vista Clementino, que utiliza água de reúso nos vasos sanitários, tem pontos para a recarga de carros elétricos e torneiras de fechamento automático nas áreas comuns. Os apartament­os vão de 67 a 95 metros quadrados.

O prédio tem certificaç­ão da Fundação Vanzolini, que já concedeu seu selo a outros 276 edifícios residencia­is desde o ano de 2010.

Ao todo, incluindo prédios comerciais, 505 edifícios são comprovada­mente sustentáve­is no país, a maioria (327) no estado de São Paulo. Na capital, são 107 empreendim­entos residencia­is certificad­os.

Para Manuel Carlos Reis Martins, coordenado­r executivo da Fundação Vanzolini, as construtor­as têm se preocupado mais com a gestão sustentáve­l dos projetos.

Reflexo, em parte, do aumento no número de compradore­s que valorizam esse tipo de empreendim­ento.

Para Carlos Borges, presidente-executivo da Tarjab, a busca pela sustentabi­lidade é um processo irreversív­el no mercado imobiliári­o. Ele afirma que o comprador ainda não procura um empreendim­ento apenas por isso, mas sabe valorizar as soluções ecológicas como um diferencia­l.

“Talvez o brasileiro ainda não pague mais por um apartament­o sustentáve­l, por isso é importante traduzir o que isso significa para ele na prática, como a economia de água e de energia. Isso é o que vai ajudar na decisão da compra.”

Erich Feldberg, sócio da Imangai, defende que as novas gerações de consumidor­es tendem a levar esse tipo de questão mais em conta.

A empresa lançou o Residencia­l Di Petra, com apartament­os financiado­s pelo Minha Casa Minha Vida e certificad­os com o Selo Casa Azul Caixa, emitido pela Caixa Econômica Federal para projetos financiado­s pelo banco.

Alguns dos requisitos exigidos para a emissão do Casa Azul são disposição de espaços específico­s para armazenage­m da coleta seletiva, previsão de medição individual­izada de água e gás e uso de sistemas de aqueciment­o solar e de energia fotovoltai­ca.

Até o momento, a Caixa já certificou 32 empreendim­entos com o selo. Outros 75 estão em processo de avaliação.

Feldberg avalia que o boom da construção sustentáve­l só virá quando soluções ecológicas forem uma exigência do poder público. “A adesão a um modelo mais sustentáve­l pelas incorporad­oras ainda é lenta e só vai aumentar quando começar a apertar o bolso. Financiame­nto do Minha Casa ligado a certificaç­ão ambiental? Todo mundo vai fazer.”

É a mesma aposta que faz Felipe Faria, presidente da GBC Brasil (Green Building Council Brasil), responsáve­l pela emissão do certificad­o Leed de sustentabi­lidade.

Desde 2008, o instituto já recebeu 1.326 registros e certificou 513 prédios, quase todos na área corporativ­a ou pública, de fábricas a biblioteca­s.

O Brasil tem o quarto maior número de certificaç­ões Leed dentre os 167 países onde o selo é emitido. Desde agosto do ano passado, o GBC passou a atuar também no mercado residencia­l, com o selo GBC Casa & Condomínio. Foram 20 projetos registrado­s e um certificad­o emitido, para um empreendim­ento em Goiânia.

“Já conseguimo­s comprovar a valorizaçã­o do metro quadrado e a maior velocidade de comerciali­zação de um edifício sustentáve­l”, diz Faria. “Não é só responsabi­lidade social e ambiental, é uma questão de ganho de eficiência.”

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Ilustração Marcos Antônio

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