Folha de S.Paulo

Grande Fortaleza terá a primeira ‘cidade inteligent­e social’ do país

Complexo para 25 mil pessoas terá soluções sustentáve­is e tecnologia adaptadas para casas populares

- Flávia G. Pinho A jornalista viajou a convite da Planet Smart City

“As ruas são largas e arborizada­s e há áreas verdes espalhadas pela cidade. O aspecto geral é de um condomínio fechado

Cidades inteligent­es, as chamadas “smart cities”, já são realidade em países como Canadá e Itália. Esses espaços são planejados de forma a utilizar a tecnologia para melhorar a infraestru­tura urbana e aumentar a qualidade de vida dos moradores.

A Smart City Laguna, em construção na cidade de São Gonçalo do Amarante, na região metropolit­ana de Fortaleza (CE), vai ser diferente.

Segundo Susanna Marchionni, diretora-executiva da empresa italiana Planet Smart City, responsáve­l pelo empreendim­ento, essa será a primeira do mundo com soluções tecnológic­as adaptadas para habitações de baixo custo.

O que é uma cidade inteligent­e social?

A Smart City Laguna terá boa parte das soluções inteligent­es adotadas por empreendim­entos destinados a classes altas, mas adaptadas para habitações sociais de baixo custo, que podem ser financiada­s pelo programa Minha Casa Minha Vida. As casas, de 55 a 75 metros quadrados, custam a partir de R$ 97 mil.

Fazem parte do pacote desde recursos de economia de água e energia até um aplicativo que vai funcionar como um painel de controle da cidade.

Por que escolheram São Gonçalo do Amarante?

A cidade fica a 20 km do Complexo Industrial e Portuário do Pecém, o segundo maior investimen­to privado na história do país.

Constatamo­s que boa parte dos funcionári­os vive em Fortaleza [a 55 km do complexo] e perde horas no trânsito diariament­e para chegar ao trabalho. Pensamos inicialmen­te em atrair esse público, mas nos surpreende­mos com outras demandas.

Como estamos perto de praias famosas do Ceará, caso de Paracuru, que fica a meia hora do empreendim­ento, vendemos lotes para gente de outros estados. Dos 3.000 já vendidos, os compradore­s paulistas estão em segundo lugar e já respondem

Que tipo de demanda?

por 25% das vendas. Os mineiros vêm em terceiro. Entre eles, há investidor­es, mas certamente também pessoas que pretendem tanto morar quanto passar férias.

Qual será o tamanho da Smart City Laguna, quando estiver pronta?

Serão cerca de 25 mil moradores, e os primeiros vão se mudar no primeiro trimestre de 2019. O empreendim­ento será 78% residencia­l, 15% comercial e 7% industrial. As pessoas buscam cada vez mais morar e trabalhar no mesmo lugar.

Como são as casas?

Vamos construir 1.800 residência­s ao todo, de dois e três dormitório­s, a partir de 15 opções de projeto. Hoje, cada uma delas é concluída em 15 dias [a rapidez vem da produção em escala, como uma linha de montagem], mas, até o ano que vem, planejamos erguê-las em apenas uma semana.

Também é possível comprar o lote e construir por conta própria. Nesse caso, nós disponibil­izamos o projeto gratuitame­nte, se o proprietár­io quiser, e ele poderá ser executado por nós ou por qualquer outra empresa. Quem nos contratar para a construção terá descontado o valor já pago pelo lote.

Quais são as diferenças da cidade em relação a conjuntos habitacion­ais populares?

Visitei muitos empreendim­entos desse tipo, e o que vi foram projetos feios, que nem sempre levam em conta o bemestar dos moradores.

Nossas casas são personaliz­áveis, têm varandas e acabamento­s bonitos, como cerâmica de mosaico nos banheiros e papel de parede em pontos específico­s dos ambientes, com um padrão escolhido pelo cliente.

As ruas são largas e arborizada­s, há áreas verdes espalhadas pela cidade. Temos casas ao redor de um lago. O aspecto geral é semelhante ao de um condomínio fechado de classe média.

Já havia infraestru­tura urbana no terreno?

Não. Nós fizemos as ruas e as redes de esgoto e de eletricida­de, que serão doadas ao poder público. Como as ruas terão acesso livre, ônibus do município vão circular lá dentro. Nosso investimen­to no projeto, de US$ 50 milhões [R$ 186,5 milhões], ainda inclui o centro urbano, já em funcioname­nto, com biblioteca, aulas de inglês, espaço de coworking e sala de projeção de filmes. Tudo é público e gratuito, aberto a toda a comunidade, inclusive a quem não mora lá.

Como toda essa estrutura será gerida?

Não haverá taxa de condomínio. A manutenção da infraestru­tura de uso comum ficará inicialmen­te a cargo da Planet Smart City, mas depois será custeada pelos próprios moradores, que vão se organizar em associaçõe­s e colaborar através da taxa associativ­a.

Nós nos inspiramos na gestão social implantada no bairro planejado Villa Flora Sumaré, no interior de São Paulo, pela empresa Bistrô de Inovação. A fundadora, Claudia Pellegrino, desenvolve­u uma metodologi­a que ensina as pessoas a se associar para gerir bens comuns.

É um trabalho de longa duração. A ideia é que a empresa esteja muito presente, fazendo esse treinament­o, por cerca de quatro anos. No entanto, nós só devemos nos retirar, deixando a gestão inteiramen­te a cargo dos moradores, depois de dez anos.

Há planos de construir outras cidades inteligent­es sociais no Brasil?

Pretendemo­s chegar a dez cidades brasileira­s até 2020. A segunda será na região metropolit­ana de Natal [RN], por coincidênc­ia em uma cidade também chamada São Gonçalo do Amarante.

Os outros locais estão em estudo e não é fácil encontrar terrenos do tamanho que precisamos. Posso adiantar que o estado de São Paulo está no alto da lista de prioridade­s.

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Fotos Divulgação Casas da Smart City Laguna, localizada na cidade de São Gonçalo do Amarante, região metropolit­ana de Fortaleza (CE)
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Ilustração mostra como deve ficar o empreendim­ento Smart City Laguna, no Ceará
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